23 julho 2014

AS CRISES IMPORTANTES NÃO FORAM URGENTES

Hoje (23 de Julho) é o dia em que se comemora o centenário da apresentação à Sérvia do ultimato da Áustria-Hungria que veio a estar na origem da Primeira Guerra Mundial. Há cem anos, a Guerra aproximava-se mais ainda não chegara. Se recordarmos a evocação que eu aqui fiz do atentado que esteve por detrás da apresentação deste ultimato, apercebemo-nos que transcorreram entretanto mais de três semanas. Nos destaques da informação das grandes crises internacionais em 28 de Junho passado, mas deste ano, a cobertura à ofensiva dos fundamentalistas islâmicos no Iraque que vigorava por aqueles dias já foi substituída primeiro pelo assassinato de três jovens israelitas e pela consequente escalada dos confrontos em Israel e depois disso pelos desenvolvimentos do derrube do avião malaio sobre a Ucrânia. Para mais, durante estas três semanas praticamente não se falou da Síria, do Afeganistão ou da Líbia, comprovando que existe uma espécie de tara máxima daquilo que a informação pode comportar quanto se trata de crises internacionais que bordejem o estatuto de conflito armado, assim como há uma capacidade limitada de manter as notícias viçosas nos destaques.
Este retorno evocativo dos centenários dos acontecimentos que precipitaram o Mundo para a Primeira Guerra Mundial poder-nos-iam servir de reflexão de quanto aquilo que é realmente importante, normalmente não sendo urgente, costuma tomar o seu tempo a realizar-se. Pelo ritmo das celebrações dos centenários, pode acompanhar-se a lenta inexorabilidade das decisões que levaram ao conflito: o ultimato que aqui evoco, por exemplo, só irá ser respondido depois de amanhã; e ainda há que aguardar mais do que uma semana, pelos primeiros dias de Agosto, para que fracassassem as derradeiras tentativas de mediação e se procedessem às verdadeiras declarações de guerra que interessavam, aquelas que foram trocadas entre as grandes potências, acompanhadas das respectivas ordens de mobilização geral dos milhões que compunham os exércitos. Ora, quase que aposto que daqui por uma semana já se terá esgotado o assunto do momento, o do derrube do voo MH17 e os destaques da informação estarão noutra. É por isso, caro leitor, que lhe posso assegurar que, se estiver para acontecer algo sério, suspeito que não será pelo seu acompanhamento das notícias principais que o saberá antecipadamente…

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