Quanto mais
os noticiários internacionais se congratulam com o Acordo alcançado esta madrugada com a Grécia, mais me parece plausível aceitar o cenário que os moderados alemães triunfaram por ora, quando fizeram prevalecer internamente a posição de que o seu país não poderia carregar o fardo, diante da opinião pública europeia, de forçar a saída da Grécia do Euro. Para aqueles alemães, há que manobrar e saber esperar porque, muito provavelmente, a Grécia virá mesmo a ter que abandonar a Zona Euro no futuro… Mas isso só virá a acontecer depois da Grécia falhar estes novos compromissos que hoje assumiu e desaproveitar mais estas condições vantajosas – tão vantajosas que chegam a tornar-se injustas para portugueses e irlandeses… – que lhes estão a ser oferecidas. Para os alemães aquele desfecho será o lógico e o seu problema é que não haverá ainda um
quórum mínimo que compartilhe a sua opinião e, para agir isoladamente, o poder real da Alemanha dentro da União também não pode ser tão sobrestimado como o tem sido ultimamente…
Outra razão que recomenda esta prudência alemã é a imprevisibilidade dos efeitos de contágio, nomeadamente à Irlanda e a Portugal, os dois países da mesma Zona Euro que também solicitaram operações de resgate. Muitas razões, sobretudo de índole financeira, têm visto a ser invocadas para separar o tratamento dos dois países e da Grécia. Porém, não tenho visto análises numa perspectiva predominantemente geoestratégica que ajudem a explicar porque a atitude alemã pode diferir no interesse dedicado aos três países da periferia da Europa. Historicamente e no que diz respeito à Grécia, a Alemanha tem tido
azar com aquela extremidade sudeste da Europa e com os Balcãs anexos. Foi por ali que ela se engajou na Primeira Guerra Mundial, por causa de um incidente em que os seus interesses vitais nem sequer estavam a ser ameaçados. E teve que voltar a perder tempo ali na Grécia e na Jugoslávia durante a Primavera de 1941, um tempo que depois se veio a revelar tacticamente precioso para a (in)conclusão da invasão da União Soviética, a primordial
Operação Barbarrossa.
Objectiva e historicamente, a Grécia ocupa o canto mais problemático da Europa que é vizinho… de outros problemas históricos. Observe-se no mapa acima como a Grécia (a vermelho) faz fronteira com a Turquia que, por sua vez, tem vizinhos como a Síria, o Iraque ou o Irão. Em contraste, tanto a Irlanda como Portugal localizam-se geograficamente nas bordas do continente, naquela região que
Spykman designou por
Rimland. E os países que se localizam no
Rimland têm uma outra importância para potências que aspiram à hegemonia continental… Portugal e Irlanda terão excelentes governos que se estão a dedicar afincadamente às reformas estruturais... Mas parte desse prestígio e simpatia – nomeadamente dentro dos órgãos da União Europeia – dever-se-á também à sua posição geográfica (abaixo) que torna as simpatias de qualquer daqueles dois países passíveis de serem disputadas entre a potência hegemónica da Europa – a Alemanha – e outras potências hegemónicas que existem ou emergem noutros continentes – Estados Unidos, China, Brasil. Ou seja, algo que a Grécia não tem…