No tempo em que a sociedade estava devidamente hierarquizada, a existência das três categorias nas forças armadas (oficiais, sargentos e praças) tinha a devida correspondência nas três classes em que se podia viajar, quer de comboio quer de navio (1ª, 2ª e 3ª), e também no sítio onde se ficava no cinema ou no teatro (1º balcão, plateia e 2º balcão).
Havia, entre o povão que viajava em terceira e que ia para o segundo balcão, quem fazia gala em dar sinal de si, nomeadamente durante os espectáculos, oportunidade quase única de convívio entre as classes sociais. As bocas do segundo balcão, transformadas numa expressão autónoma, tornaram-se uma definição sociológica em si, como sinónimo de comentários entre o brejeiro e o grosseiro, de humor fácil, superficiais e inconsequentes.
Não foi por causa de mais um poste de um blogue da vizinhança, a respeito dos problemas da saúde e do titular do ministério, que me ocorreu esta associação entre a blogosfera moderna e as figuras tristes protagonizadas outrora com grande alegria pelos membros das camadas humildes de uma sociedade que já não existe. Embora, sob o assunto em referência, já anteriormente o autor daquele blogue ter dado mostras de não perceber grande coisa...
O melhor de tudo estava guardado para a caixa de comentários onde, depois de um poste previsivelmente arrasador do ministro e da sua política, um comentador sugere ao seu autor alguma sugestão alternativa ou uma referência a alguma medida positiva tomada pelo ministro. A resposta é esta gema preciosa que não hesito em aqui transcrever:
Havia, entre o povão que viajava em terceira e que ia para o segundo balcão, quem fazia gala em dar sinal de si, nomeadamente durante os espectáculos, oportunidade quase única de convívio entre as classes sociais. As bocas do segundo balcão, transformadas numa expressão autónoma, tornaram-se uma definição sociológica em si, como sinónimo de comentários entre o brejeiro e o grosseiro, de humor fácil, superficiais e inconsequentes.
Não foi por causa de mais um poste de um blogue da vizinhança, a respeito dos problemas da saúde e do titular do ministério, que me ocorreu esta associação entre a blogosfera moderna e as figuras tristes protagonizadas outrora com grande alegria pelos membros das camadas humildes de uma sociedade que já não existe. Embora, sob o assunto em referência, já anteriormente o autor daquele blogue ter dado mostras de não perceber grande coisa...
O melhor de tudo estava guardado para a caixa de comentários onde, depois de um poste previsivelmente arrasador do ministro e da sua política, um comentador sugere ao seu autor alguma sugestão alternativa ou uma referência a alguma medida positiva tomada pelo ministro. A resposta é esta gema preciosa que não hesito em aqui transcrever:
Obrigado. Todavia ninguém me paga para dar "ideias" a ministros, nem me imagino a passar por tal. O dr. campos (sic) aceitou ser ministro. Alguma ideia deveria ter.
Até dá para imaginar como o galinheiro - o nome popular dado ao segundo balcão - quase viria abaixo com os aplausos a esta tirada.
Adenda de Setembro de 2012: Relendo agora este poste, constato que aquele que então escrevia que não se imaginava a passar por dar "ideias" a ministros se tornou entretanto adjunto do chefe de gabinete do "dr." relvas. É com episódios destes que compreendo a razão para que a expressão à cara podre tenha vindo a ser adoptada ultimamente como substituta de descaramento...
Adenda de Setembro de 2012: Relendo agora este poste, constato que aquele que então escrevia que não se imaginava a passar por dar "ideias" a ministros se tornou entretanto adjunto do chefe de gabinete do "dr." relvas. É com episódios destes que compreendo a razão para que a expressão à cara podre tenha vindo a ser adoptada ultimamente como substituta de descaramento...
... a menos que seja uma "pantomime" em que a etiqueta permite que o pessoal todo mande bocas... !!
ResponderEliminarMesmo assim, Freitas, ocupante do 1º balcão que se preze não se diverte em companhia da ralé...
ResponderEliminarA única que se manda do 1º balcão são serpentinas e na época do caranaval...
A. Teixeira,
ResponderEliminarConfesso que partilho um certo desprazer em ler o Portugal dos Pequeninos. Numacoisa, porém, o autor acertou na mouche - o título do blog não poderia ser mais apropriado.
Parabéns por (mais um!) excelente post.
Tenho uma relação com aquele blogue, Rantas, parecida com a que, em certa altura, tive com o Expresso: completamente desiludido com a evolução da linha editorial mas hesitante na marcação da data da ruptura. E, continuando as analogias, o blogue tem um autor que parece ter desenvolvido um ego parecido com o do actual director do Sol. Duas coisas, contudo, ele tem de desvantagem em relação ao arquitecto. Fala de mais de coisas que se nota que sabe pouco – daí as tiradas petulantes que referi neste poste... E raramente faz um elogio (o que torna o blogue tão negativo), naquela linha que, se o fizer, se arrisca a perder um dente – e imaginamo-lo a passear, vaidoso, a sua magnífica dentição…
ResponderEliminarE... muito obrigado pelo elogio!