Fico sinceramente com muita pena por não ter assistido a um debate a pretexto do 50º aniversário do XX Congresso do PCUS, realizado ontem na biblioteca do Museu República e Resistência, como notícia hoje o Diário de Notícias. E, logo pelo cabeçalho da notícia onde se lê que Brito denuncia recuperação da figura de Estaline feita no PCP, se antecipa a distinção entre o que de interessante lá aconteceu e o interessante-bombástico que ao jornalista interessou dar relevo.
E o primeiro acontecimento deveras interessante foi quem lá não esteve... Estiveram lá, na mesa, Carlos Brito, antigo militante e dirigente do PCP e Fernando Rosas, deputado do BE, ex-MRPP e historiador, e entre intervenções e presenças, lêem-se na notícia os nomes de Raimundo Narciso, actualmente no PS, ex-ARA (PCP), Mário Tomé, que foi da UDP para o BE, Francisco Martins Rodrigues, um histórico ex-PCP, não sei se actualmente milita no BE e ainda a inesquecível Carmelinda Pereira, do POUS.
Como se torna evidente, desta lista de nomeados não consta, nem a título institucional, nem a título individual (seria que o partido permitiria essa distinção?), nenhum militante de destaque do PCP. É canónico como o PCP não participa em acontecimentos deste tipo onde não controle a sua organização. E evidentemente que a sua Informação e Propaganda já deve ter emitido um comunicado enfadonhamente longo, para aí com uns 15 ou 20 pontos, explicando porque é culpa dos outros a sua ausência…
Mesmo assim, atendendo à notícia, ainda parece ter havido muito bom debate, também daquele típico de uma certa esquerda e muito bem caricaturado por George Orwell em Animal Farm, onde a semântica se sobrepõe à substância. Só que, em vez de se ouvir que há animais mais iguais que outros, ouviu-se Rosas concluir que de Estaline para Krutchev, houve diferenças de grau e de intensidade, mas não de natureza. Quem discordava deixou de ser morto. Ora eu suponho que isto deve ter sido uma excelente notícia para os discordantes…
Mas o resto do debate, a atender pelas descrições da notícia, parece ter sido muito interessante, pela divergência de opiniões das formas como uma organização que é necessariamente hermética, por necessidades de segurança, e ideologicamente monolítica, pela sua génese, se confronta com um gigantesco acto de contrição sobre o passado próximo por parte da organização central para a qual tinha sido desde sempre educada para prestar vassalagem.
Uma nota final a respeito de Estaline, que faz de chamariz no título da notícia. Se, com tudo o que se sabe hoje sobre ele, ainda é compreensível ver uns velhinhos nostálgicos na Ucrânia a carregar a sua fotografia por ocasião do aniversário da revolução de Outubro como um ícone (estilo velinhas na base da estátua do Dr. Sousa Martins*…), só um modismo intelectual incompreensível e superficial – do estilo retro… - pode justificar as tentativas de recuperar a figura de um dos piores ditadores do Século XX, por parte de quem devia estar mais esclarecido.
Para os comunistas que andem mais distraídos notem que há outras maneiras de se ser grunho, para além de se rapar a cabeça, fazer a saudação fascista e manifestar admiração por Adolf Hitler… O que torna a extrema-direita mais repelente é a obtusidade na forma como se recusam a absorver as lições da História…
E o primeiro acontecimento deveras interessante foi quem lá não esteve... Estiveram lá, na mesa, Carlos Brito, antigo militante e dirigente do PCP e Fernando Rosas, deputado do BE, ex-MRPP e historiador, e entre intervenções e presenças, lêem-se na notícia os nomes de Raimundo Narciso, actualmente no PS, ex-ARA (PCP), Mário Tomé, que foi da UDP para o BE, Francisco Martins Rodrigues, um histórico ex-PCP, não sei se actualmente milita no BE e ainda a inesquecível Carmelinda Pereira, do POUS.
Como se torna evidente, desta lista de nomeados não consta, nem a título institucional, nem a título individual (seria que o partido permitiria essa distinção?), nenhum militante de destaque do PCP. É canónico como o PCP não participa em acontecimentos deste tipo onde não controle a sua organização. E evidentemente que a sua Informação e Propaganda já deve ter emitido um comunicado enfadonhamente longo, para aí com uns 15 ou 20 pontos, explicando porque é culpa dos outros a sua ausência…
Mesmo assim, atendendo à notícia, ainda parece ter havido muito bom debate, também daquele típico de uma certa esquerda e muito bem caricaturado por George Orwell em Animal Farm, onde a semântica se sobrepõe à substância. Só que, em vez de se ouvir que há animais mais iguais que outros, ouviu-se Rosas concluir que de Estaline para Krutchev, houve diferenças de grau e de intensidade, mas não de natureza. Quem discordava deixou de ser morto. Ora eu suponho que isto deve ter sido uma excelente notícia para os discordantes…
Mas o resto do debate, a atender pelas descrições da notícia, parece ter sido muito interessante, pela divergência de opiniões das formas como uma organização que é necessariamente hermética, por necessidades de segurança, e ideologicamente monolítica, pela sua génese, se confronta com um gigantesco acto de contrição sobre o passado próximo por parte da organização central para a qual tinha sido desde sempre educada para prestar vassalagem.
Uma nota final a respeito de Estaline, que faz de chamariz no título da notícia. Se, com tudo o que se sabe hoje sobre ele, ainda é compreensível ver uns velhinhos nostálgicos na Ucrânia a carregar a sua fotografia por ocasião do aniversário da revolução de Outubro como um ícone (estilo velinhas na base da estátua do Dr. Sousa Martins*…), só um modismo intelectual incompreensível e superficial – do estilo retro… - pode justificar as tentativas de recuperar a figura de um dos piores ditadores do Século XX, por parte de quem devia estar mais esclarecido.
Para os comunistas que andem mais distraídos notem que há outras maneiras de se ser grunho, para além de se rapar a cabeça, fazer a saudação fascista e manifestar admiração por Adolf Hitler… O que torna a extrema-direita mais repelente é a obtusidade na forma como se recusam a absorver as lições da História…
Caríssimo, a estátua não é de Câmara Pestana mas de Sousa Martins, se é que estamos a falar da mesma coisa (Campo de Santana ou Mártires da Pátria, em Lisboa).
ResponderEliminarUm abraço.
É mesmo essa e antes de publicar o poste estava mesmo com a sensação que ia "meter água" e devia investigar o assunto... Depois...
ResponderEliminarObrigado pelo esclarecimento e pela leitura atenta!
Um abraço