07 novembro 2006

OS GRANDES JULGAMENTOS

Desculpar-me-ão os leitores que estejam a ler este poste e que possuam formação jurídica, mas considero todos estes grandes julgamentos como o de Saddam Hussein, que acaba de terminar, como sendo normalmente uma grande fantochada concebida por quem os promove para dali extrair dividendos políticos. Trata-se de uma forma encenada – com a conivência evidente do tal poder judicial sempre independente… - da aplicação da velha máxima romana Vae Victis (Ai dos vencidos). Como certas peças de joalharia que apenas levam um banho de metal precioso também estes julgamentos prosseguem objectivos políticos apenas com uma cobertura (e respectiva pátina) jurídica.

Normalmente estes grandes julgamentos estão recheados de questões e incongruências que nunca podem ser respondidas nem satisfeitas. O que é que aconteceu às investigações sobre o Massacre de Katyn durante os julgamentos de Nuremberga? Porque é que os réus do Bando dos Quatro entravam sempre cabisbaixos – como de resto acontece sempre que há cobertura mediática nos tribunais chineses… - durante todo o seu julgamento? Serão verosímeis as confissões dos réus dos processos de Moscovo dos anos 30? Porque é que Slobodan Milosevic (ao contrário de Saddam…) não foi julgado no seu próprio país, mas em Haia? E porque é que a cobertura mediática do seu julgamento começou a desaparecer quando ele começou a ganhar simpatias com a sua autodefesa?

Este corrupio de perguntas destina-se apenas a comprovar que, nestes julgamentos, o jogo começa e permanece viciado até ao fim. Não há surpresas. O caso de Saddam Hussein não parece excepção, nem é preciso invocar a coincidência do proveito eleitoral que o anúncio da sentença poderá ter nos Estados Unidos para alertar para isso… É por isso que considero que todos os comentários e protestos a respeito da condenação à morte proferida contra Saddam Hussein devem ser dirigidas a quem já a havia decidido, na prática e há muito tempo, quanto se optou por deixá-lo para ser submetido a um julgamento no Iraque: a George W. Bush, e à sua administração…

Ou vendo as coisas do ângulo oposto: naquelas circunstâncias, quem estava à espera de outro veredicto?

1 comentário:

  1. Tratou-se de uma morte anunciada por todas as crónicas, oráculos e adivinhos diplomados por Vilar de Perdizes. É verdade.

    Dito isto, a verdade é que a condenação é amplamente merecida.

    Mas a pena deveria ser de prisão perpétua. Sem perdões por bom comportamento...

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