Sempre que ouço aquelas análises globais do costume a dizer que nos faz falta, aos portugueses, espírito de iniciativa e tudo mais o resto, eu lembro-me do Peixinho. O Peixinho que recordo era a prova provada que nunca nos faltou um certo tipo de iniciativa. O problema do analista é que espíritos de iniciativa como os do Peixinho nunca aumentaram o PIB de economia nenhuma embora possam contribuir para o seu bem-estar – o do Peixinho, bem entendido.
A imagem de marca que me faz recordar o Peixinho no Colégio Militar era a sua capacidade de precocemente andar sempre desenfiado quando era a altura das formaturas. Só na teoria o Peixinho devia pertencer a um pelotão, que devia visitar de quando em vez, apenas para não perder o jeito de acertar o passo e o resto dos rudimentos da ordem unida. Na esmagadora maioria das vezes, contudo, o Peixinho tinha sempre qualquer coisa urgente a tratar com qualquer pessoa importante à hora da formatura.
Percebo hoje como o Peixinho mostrou ser precoce na compreensão perfeita de algumas fraquezas da natureza humana. A primeira questão resolvida foi a da atitude: o Peixinho desenfiava-se mas não tentava passar desapercebido. Muito pelo contrário, atravessava determinadamente o geral da companhia com uma pasta debaixo do braço e o ar seguro de quem sabia o que tinha para fazer! Ele até usava uma placa identificadora ao peito com número e apelido quando andava de camisa. É que um gajo que se passeia assim tão bem identificado não pode andar desenfiado!...
Em segundo lugar, quando interpelado – porque a repetição consecutiva do mesmo padrão levanta sempre suspeitas – quanto à razão de se andar a passear naquela altura do dia a explicação do Peixinho envolvia normalmente uma patente qualificada (de capitão para cima) com quem ele ia falar, e porque tinha sido chamado. Esta versão podia ser encurtada ou alongada conforme o Peixinho analisasse o perfil do graduado que o estava a chatear. Havia uns graduados que, mesmo mais incrédulos, podiam ainda ser vencidos pela exaustão de uma história comprida.
Finalmente, a perseverança, porque a manobra quotidiana do Peixinho era capaz de lhe dar muito mais trabalho do que a rotina de ir para a formatura com os outros todos. E depois havia os riscos associados à actividade porque, graduado que tivesse embirrado com ele, aí para o terceiro período já lhe conhecia os truques todos. Mas não haja dúvidas que ali estava um empreendedor. Deve ter sido por isso que, no 7º ano, foi graduado com as 3 estrelas das actividades circum-escolares. Merecidas: ninguém representava como ele o conceito da palavra latina circum – com o Peixinho nada era linear…
Toda esta velha história do Peixinho e da usurpação (criação imaginativa) de funções em geral feita por quem tem descaramento bastante para isso, vem a propósito dos inúmeros representantes de organizações que, de um dia para o outro, se vêm aparecer na comunicação social, falando em nome de uma qualquer classe profissional ou de um grupo de interesses qualquer, sem que se perceba muito bem (e normalmente a peça jornalística onde se insere não esclarece isso…) como e quando se constituiu e qual a sua representatividade.
Dando um exemplo, e ele dever-se-á talvez ao facto da GNR ser uma força militarizada, mas não consigo evitar a associação, o de José Manageiro, que é o porta-voz de uma associação de guardas onde só ele fala e mais ninguém se conhece, aos expedientes e iniciativas de outrora do meu amigo Peixinho, só que ele não invocava os interesses da malta para andar desenfiado. E o caso de José Manageiro é apenas um mero exemplo de organizações que suspeito tenham fundamentos similares. No conjunto, a estrutura delas, tanto as organizações sindicais como as patronais, de pirâmide só têm o nome.
O que suspeito, é que a cobertura mediática destes acontecimentos é feita com uma superficialidade tal que permite o protagonismo a indivíduos que, mais dos que as necessidades de representação dos interesses de partes envolvidas em conflitos, adaptam-se mais às necessidades do conteúdo informativo sobre as notícias desses mesmos conflitos. Um exemplo? Há vinte e cinco anos a UGT era uma necessidade imperiosa do PS tentar mostrar que também tinha influência nos sindicatos. Por quem fala João Proença hoje em dia? Querem fazer uma sondagem* sobre a importância das centrais sindicais?
* Uma sondagem exclui, naturalmente, uma eurosondagem de Oliveira e Costa...
Adenda: Nem de propósito, o jornal Público de 30/11 dá conta de uma reunião da organização da Guarda dirigida e protagonizada por José Manageiro. Presentes, segundo o jornalista José Bento Amaro no artigo impresso, uma centena de sócios. Folgo em saber que José Manageiro não está sozinho, embora os efectivos totais da GNR sejam um pouco mais elevados do que aquela centena (+ de 20.000...).
A imagem de marca que me faz recordar o Peixinho no Colégio Militar era a sua capacidade de precocemente andar sempre desenfiado quando era a altura das formaturas. Só na teoria o Peixinho devia pertencer a um pelotão, que devia visitar de quando em vez, apenas para não perder o jeito de acertar o passo e o resto dos rudimentos da ordem unida. Na esmagadora maioria das vezes, contudo, o Peixinho tinha sempre qualquer coisa urgente a tratar com qualquer pessoa importante à hora da formatura.
Percebo hoje como o Peixinho mostrou ser precoce na compreensão perfeita de algumas fraquezas da natureza humana. A primeira questão resolvida foi a da atitude: o Peixinho desenfiava-se mas não tentava passar desapercebido. Muito pelo contrário, atravessava determinadamente o geral da companhia com uma pasta debaixo do braço e o ar seguro de quem sabia o que tinha para fazer! Ele até usava uma placa identificadora ao peito com número e apelido quando andava de camisa. É que um gajo que se passeia assim tão bem identificado não pode andar desenfiado!...
Em segundo lugar, quando interpelado – porque a repetição consecutiva do mesmo padrão levanta sempre suspeitas – quanto à razão de se andar a passear naquela altura do dia a explicação do Peixinho envolvia normalmente uma patente qualificada (de capitão para cima) com quem ele ia falar, e porque tinha sido chamado. Esta versão podia ser encurtada ou alongada conforme o Peixinho analisasse o perfil do graduado que o estava a chatear. Havia uns graduados que, mesmo mais incrédulos, podiam ainda ser vencidos pela exaustão de uma história comprida.
Finalmente, a perseverança, porque a manobra quotidiana do Peixinho era capaz de lhe dar muito mais trabalho do que a rotina de ir para a formatura com os outros todos. E depois havia os riscos associados à actividade porque, graduado que tivesse embirrado com ele, aí para o terceiro período já lhe conhecia os truques todos. Mas não haja dúvidas que ali estava um empreendedor. Deve ter sido por isso que, no 7º ano, foi graduado com as 3 estrelas das actividades circum-escolares. Merecidas: ninguém representava como ele o conceito da palavra latina circum – com o Peixinho nada era linear…
Toda esta velha história do Peixinho e da usurpação (criação imaginativa) de funções em geral feita por quem tem descaramento bastante para isso, vem a propósito dos inúmeros representantes de organizações que, de um dia para o outro, se vêm aparecer na comunicação social, falando em nome de uma qualquer classe profissional ou de um grupo de interesses qualquer, sem que se perceba muito bem (e normalmente a peça jornalística onde se insere não esclarece isso…) como e quando se constituiu e qual a sua representatividade.
Dando um exemplo, e ele dever-se-á talvez ao facto da GNR ser uma força militarizada, mas não consigo evitar a associação, o de José Manageiro, que é o porta-voz de uma associação de guardas onde só ele fala e mais ninguém se conhece, aos expedientes e iniciativas de outrora do meu amigo Peixinho, só que ele não invocava os interesses da malta para andar desenfiado. E o caso de José Manageiro é apenas um mero exemplo de organizações que suspeito tenham fundamentos similares. No conjunto, a estrutura delas, tanto as organizações sindicais como as patronais, de pirâmide só têm o nome.
O que suspeito, é que a cobertura mediática destes acontecimentos é feita com uma superficialidade tal que permite o protagonismo a indivíduos que, mais dos que as necessidades de representação dos interesses de partes envolvidas em conflitos, adaptam-se mais às necessidades do conteúdo informativo sobre as notícias desses mesmos conflitos. Um exemplo? Há vinte e cinco anos a UGT era uma necessidade imperiosa do PS tentar mostrar que também tinha influência nos sindicatos. Por quem fala João Proença hoje em dia? Querem fazer uma sondagem* sobre a importância das centrais sindicais?
* Uma sondagem exclui, naturalmente, uma eurosondagem de Oliveira e Costa...
Adenda: Nem de propósito, o jornal Público de 30/11 dá conta de uma reunião da organização da Guarda dirigida e protagonizada por José Manageiro. Presentes, segundo o jornalista José Bento Amaro no artigo impresso, uma centena de sócios. Folgo em saber que José Manageiro não está sozinho, embora os efectivos totais da GNR sejam um pouco mais elevados do que aquela centena (+ de 20.000...).
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