Nos idos anos das décadas de 60 e 70, quando árabes e israelitas andavam à trancada com regularidade no Médio Oriente, havia uma expressão que eu muito ouvia e lia nas rádios, televisão e jornais, quando algum dos lados – normalmente eram os árabes – enfardava demais nos consecutivos enfrentamentos que os opunham e, como consequência, tinha que reorganizar o posicionamento das suas forças no terreno.
A expressão em questão, a que aprendi a me afeiçoar, era retirada estratégica. Havia também uma versão longa, tipo De Luxe: retirada estratégica para posições preparadas de antemão. Antes de aprender o verdadeiro significado da palavra estratégia – coisa que muita gente que a usa hoje em dia ainda não sabe – no meu conceito infantil ela estava associada a uma qualquer forma airosa de fingir que não se apanhou porrada…
Mas não é de infância mas de velhice e de outras retiradas que me lembrei de escrever, a propósito do memorando do actual Chefe de Estado-Maior General das Forças Armadas (CEMGFA), Almirante Mendes Cabeçadas, dirigido ao Ministro da Defesa, Nuno Severiano Teixeira, que, escapando ao carácter discricionário que estes documentos costumam ter, acabou na Lusa e nesta página da TSF.
No memorando torna-se perfeitamente perceptível o teor censório posto na forma como se considera que o poder político tem vindo a abordar o problema da especificidade das funções militares. Embora concebido para ser apreciado em ambiente restrito, a verdade é que o conhecimento do conteúdo do referido memorando é agora compartilhado pelo Ministro com toda a opinião pública que liga a estes assuntos.
Longe vá a ideia de supor que esta fuga para a imprensa tenha sido originada de fontes próximas do CEMGFA, as hipóteses da sua origem dividir-se-ão, pelo menos, equitativamente com as do pessoal do gabinete do Ministro, mas não deixará de haver quem se lembre de associar este acontecimento à circunstância do Almirante Cabeçadas estar a terminar brevemente o seu mandato.
Houve CEMGFAs, como o antecessor do actual, o General Alvarenga Sousa Santos, em que o seu mandato foi eivado de diversos incidentes com o poder político. Outros houve, como aconteceu com o antecessor imediato a esse, General Gabriel Espírito Santo, em que tudo pareceu ter corrido pelo melhor, até ao discurso da sua despedida, em que fez as críticas que devia ter feito enquanto ocupava o cargo...
Ora o Almirante Mendes Cabeçadas tem tido um mandato tranquilo, sob três Ministros da Defesa distintos, tendo sido até reconduzido no cargo. Mas pertencerá também ele aquela classe de oficiais generais como a do seu segundo antecessor: a dos generais que só desencadeiam a ofensiva imediatamente antes de efectuar a retirada estratégica para posições preparadas de antemão?...
A expressão em questão, a que aprendi a me afeiçoar, era retirada estratégica. Havia também uma versão longa, tipo De Luxe: retirada estratégica para posições preparadas de antemão. Antes de aprender o verdadeiro significado da palavra estratégia – coisa que muita gente que a usa hoje em dia ainda não sabe – no meu conceito infantil ela estava associada a uma qualquer forma airosa de fingir que não se apanhou porrada…
Mas não é de infância mas de velhice e de outras retiradas que me lembrei de escrever, a propósito do memorando do actual Chefe de Estado-Maior General das Forças Armadas (CEMGFA), Almirante Mendes Cabeçadas, dirigido ao Ministro da Defesa, Nuno Severiano Teixeira, que, escapando ao carácter discricionário que estes documentos costumam ter, acabou na Lusa e nesta página da TSF.
No memorando torna-se perfeitamente perceptível o teor censório posto na forma como se considera que o poder político tem vindo a abordar o problema da especificidade das funções militares. Embora concebido para ser apreciado em ambiente restrito, a verdade é que o conhecimento do conteúdo do referido memorando é agora compartilhado pelo Ministro com toda a opinião pública que liga a estes assuntos.
Longe vá a ideia de supor que esta fuga para a imprensa tenha sido originada de fontes próximas do CEMGFA, as hipóteses da sua origem dividir-se-ão, pelo menos, equitativamente com as do pessoal do gabinete do Ministro, mas não deixará de haver quem se lembre de associar este acontecimento à circunstância do Almirante Cabeçadas estar a terminar brevemente o seu mandato.
Houve CEMGFAs, como o antecessor do actual, o General Alvarenga Sousa Santos, em que o seu mandato foi eivado de diversos incidentes com o poder político. Outros houve, como aconteceu com o antecessor imediato a esse, General Gabriel Espírito Santo, em que tudo pareceu ter corrido pelo melhor, até ao discurso da sua despedida, em que fez as críticas que devia ter feito enquanto ocupava o cargo...
Ora o Almirante Mendes Cabeçadas tem tido um mandato tranquilo, sob três Ministros da Defesa distintos, tendo sido até reconduzido no cargo. Mas pertencerá também ele aquela classe de oficiais generais como a do seu segundo antecessor: a dos generais que só desencadeiam a ofensiva imediatamente antes de efectuar a retirada estratégica para posições preparadas de antemão?...
E fica uma outra questão, muito mais ampla do que a pessoa do Almirante Cabeçadas e dos seus antecessores. Se o topo da hierarquia militar é um dos lugares do Estado que é ocupado por titulares que resultam de um dos mais vastos e apurados processos de selecção de quadros superiores em Portugal, que problemas nos critérios usados poderá haver para que se levantem as questões que aqui levantei?
Se calhar, nos tais aturados exames, esqueceram-se de olhar para o que mais à vista estava, o nome dos candidatos.
ResponderEliminarUm Alvarenga não oferece grandes garantias, ao contrário do Espírito Santo que só pode ser consensual.
Este Cabeçadas tinha de fazer das suas e escolheu o momento da saída para partir a loiça.
Acto de coragem? Talvez. Mas melhor teria sido falar mais cedo...