Talvez por causa da correcção política que se costuma associar aos povos escandinavos, o povo colonizador mais esquecido de todos os que a Europa conta será, com muita probabilidade, o dinamarquês. A verdade é que, ao longo da sua História, a Dinamarca chegou a possuir colónias em quatro continentes (Europa, África, Ásia e América) e ainda hoje a Gronelândia e as Ilhas Faroe, embora gozando de uma ampla autonomia interna, são dependências da Dinamarca.
Como acontece também com as duas regiões autónomas portuguesas no Atlântico, Açores e Madeira, as Ilhas Faroe e a Gronelândia foram, conjuntamente com a Islândia, as primeiras regiões de colonização, ainda durante a Idade Média, e também as que permaneceram ligadas à metrópole depois do fim do Império. Contudo, a comparação não é linear, porque a colonização nas terras do Norte do Atlântico foi realizada também por noruegueses, escoceses e irlandeses.
As relações entre metrópole e dependências não têm assim as características de proximidade e, sobretudo, de exclusividade, como aquelas que vigoram entre Portugal, a Madeira e os Açores. Ainda recentemente, a Rainha da Dinamarca, quando em visita à Gronelândia, apareceu vestida com o fato tradicional daquela região (acima). Apesar do teor dos discursos de Alberto João Jardim, ainda não parece necessário que o casal Cavaco Silva faça o mesmo com o trajo madeirense…
Mas os dinamarqueses foram muito mais longe do que o Atlântico. O local mais distante onde se instalaram foi a Índia, onde fundaram uma feitoria em 1620 em Tranquebar, na Costa do Coromandel, no actual estado indiano de Tamil Nadu. Em 1675 fundaram uma outra no estado de Bengala, próxima de Calcutá. Em 1755 reivindicaram as insalubres Ilhas Nicobar, no Golfo de Bengala. Em 1845, o conjunto foi vendido aos britânicos, já hegemónicos no subcontinente.
Outro dos locais em que os dinamarqueses se instalaram foram as costas do Golfo da Guiné, nas paragens correspondentes ao Gana actual, onde os dinamarqueses conquistaram e reforçaram, ou edificaram de raiz, vários fortes e feitorias desde 1658 até se retirarem da região em 1850. O propósito das feitorias era, principalmente, o comércio de escravos para as Américas e, com a abolição da escravatura e a extinção do tráfico, os dinamarqueses venderam-nas aos britânicos.
Nas Caraíbas, os dinamarqueses ocuparam em 1673 algumas das Ilhas Virgens que ficaram a ser conhecidas pelas Ilhas Virgens Dinamarquesas. As ilhas eram o destino principal dos escravos que eram comprados no Golfo da Guiné, para trabalharem nas plantações de açúcar. A abolição da escravatura (1848) tornou-as economicamente desinteressantes. Também foram vendidas em 1917 mas, sinal dos tempos, os compradores dessa vez foram os Estados Unidos (*).
Quanto às possessões europeias, em 1874 a Dinamarca concedeu a autonomia à Islândia e em 1918, através da Assinatura de um Acto de União, a Islândia ascendeu à soberania plena em que compartilhava o monarca com a Dinamarca. Ao tornar-se uma República em 1944, a Islândia rompeu os últimos vínculos que a ligavam à Dinamarca. Depois da Guerra, as autonomias concedidas às Ilhas Faroe e à Gronelândia parecem encaminhá-las num percurso semelhante.
(*) Actualmente são conhecidas pelas Ilhas Virgens americanas para as distinguir das vizinhas Ilhas Virgens britânicas.
Muito interessante. Desconhecia completamente.
ResponderEliminarEnquanto escrevia este poste, nas referências à Islândia, lembrei-me dum dos seus pratos típicos, cuja descrição é de arromba: escroto de carneiro curado!
ResponderEliminarUma sugestão para uma próxima excursão do teu Garfadas on line, depois da Grécia...
Depois ele (O Teixeira) fica zangador por eu considerar este o melhor blog de toda a blogosfera.
ResponderEliminarVoltando aos dinamarqueses a ele sucedeu-lhes algo em menor escala que aconteceu aos holandeses, o Reino Unido.
Só acho que o Teixeira da próxima vez pode falar da União (?) de Kalmar.
Bom, João Moutinho, vou fazer um acordo consigo quanto à classificação do blogue: eu deixo de me zangar mas não sou forçado a concordar, ficando-me por um "há quem aprecie... e ainda bem!"
ResponderEliminarQuanto à menção das uniões dinásticas entre os três reinos escandinavos (Dinamarca, Noruega e Suécia) e da expansão nórdica pelas Ilhas Britânicas apenas a aflorei quando falei do processo de colonização das outras ilhas Atlânticas.
Confesso-lhe que o que me dá mais trabalho nestes postes nunca é "esticar" o tema, é saber como "compactá-lo" com coerência e rigor histórico.
Por acaso já tinha ouvido falar das possessões ultramarinas dinamarquesas, mas pensei que fosse ainda mais modestas.
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