O território de Dadrá e Nagar Haveli é hoje uma das menores unidades autónomas da União Indiana. As razões históricas para que aquele pequeno território com 487 km² e 220.000 habitantes (censo de 2001) goze daquele estatuto especial são devidas à presença portuguesa na Índia e, contudo, na antiga potência colonial serão muito poucos os que sabem a sua história. Mais, mesmo na época do apogeu da ideia imperial durante a primeira metade do Século XX, poucos terão sido os portugueses que terão conhecido a especificidade histórica deste pedaço mal quisto do império português.
Para aqueles que tiveram a obrigação de o aprender na escola, mesmo já depois de ele ter deixado de existir na realidade, como foi o meu caso, o Estado da Índia (acima) era composto por Goa, Damão e Diu. O mapa (acima) das costas do Malabar mostrava, por um lado, a predominância de Goa no conjunto (86% da população e do território) e, por outro, a distância geográfica, da ordem das centenas de quilómetros, que separava cada uma das três possessões portuguesas. Além disso, em Damão, havia uma região costeira e outra separada dela, no interior. Esta última era Dadrá e Nagar Haveli.
Diga-se que possessões sem grande contiguidade geográfica não eram assim tão raras na Índia dos Marajás. O Estado principesco de Baroda, cuja Marajá era um dos monarcas mais importantes na hierarquia da Índia britânica, era constituído por uma dúzia de territórios espalhados por todo o Gujarate, alguns deles na vizinhança dos territórios portugueses (veja-se a sua configuração no mapa abaixo). A história multissecular da Índia com as invasões e conquistas, seguidas de complexos processos de negociação e de aquisições pela via matrimonial haviam conduzido àqueles bizarras configurações geográficas.
Desde a chegada à Índia de Vasco da Gama em 1498, que a Coroa portuguesa se tornara também em mais um desses potentados (embora estrangeiro) em disputa pela conquista das praças-fortes das regiões costeiras do Malabar. Nos finais do Século XVI, para além daquele que é hoje o Estado indiano de Goa com 3.702 km², os portugueses dominavam uma outra região com uma área equivalente (abaixo, cerca de 100 km de costa de Damão a Chaul, prolongando-se a influência por uns 20 a 30 km para o interior), a chamada Província do Norte, cuja cidade principal e capital administrativa era Baçaim (actualmente Vasai).
Diga-se que possessões sem grande contiguidade geográfica não eram assim tão raras na Índia dos Marajás. O Estado principesco de Baroda, cuja Marajá era um dos monarcas mais importantes na hierarquia da Índia britânica, era constituído por uma dúzia de territórios espalhados por todo o Gujarate, alguns deles na vizinhança dos territórios portugueses (veja-se a sua configuração no mapa abaixo). A história multissecular da Índia com as invasões e conquistas, seguidas de complexos processos de negociação e de aquisições pela via matrimonial haviam conduzido àqueles bizarras configurações geográficas.
Desde a chegada à Índia de Vasco da Gama em 1498, que a Coroa portuguesa se tornara também em mais um desses potentados (embora estrangeiro) em disputa pela conquista das praças-fortes das regiões costeiras do Malabar. Nos finais do Século XVI, para além daquele que é hoje o Estado indiano de Goa com 3.702 km², os portugueses dominavam uma outra região com uma área equivalente (abaixo, cerca de 100 km de costa de Damão a Chaul, prolongando-se a influência por uns 20 a 30 km para o interior), a chamada Província do Norte, cuja cidade principal e capital administrativa era Baçaim (actualmente Vasai).
Essa Província setentrional da Índia sobreviveu às incursões dos muçulmanos no Século XVI, às dos holandeses no Século XVII e mesmo à cedência de Bombaim aos britânicos em 1665. Mas não resistiu a uma invasão de guerreiros maratas que a atingiu entre 1737 e 1740. A Província do Norte perdeu-se na sua quase totalidade – com excepção da praça de Damão que se situava no seu extremo setentrional. E foi só daí a 40 anos, em 1780, que, através de um complexo processo negocial, uma ínfima parte daquilo que fora então perdido – precisamente Dadrá e Nagar Haveli – veio a regressar ao domínio da Coroa portuguesa.
Para todos os efeitos, mesmo depois de regressada à soberania portuguesa, a história de Dadrá e Nagar Haveli seria embaraçosa de se contar durante o apogeu do período imperial e da supremacia europeia: tratava-se de um salvado depois de uma estrondosa derrota dos colonizadores perante os colonizados… A sua descolonização também vai ser um embaraço. Como se pôde observar pelos mapas, desde sempre os contactos de Dadrá e Nagar Haveli com o exterior dependeram da boa vontade do vizinho. Para se atingir Damão tinha que se atravessar territórios que, depois de 1947, passaram a ser da União Indiana, que os queria anexar.
Em finais de Julho de 1954 umas dezenas de activistas armados, a que a União Indiana não queria dar cobertura oficial demoraram um pouco mais de uma semana a extinguir a autoridade colonial portuguesa sustentada militarmente apenas por forças policiais. O lado português registou, mesmo assim, o seu mártir Aniceto Rosário (acima), o chefe do posto policial de Dadrá, que morreu a defendê-lo. Mas, comparando-o com a projecção alcançada depois por Oliveira e Carmo, que veio a ser o mártir da invasão de Dezembro de 1961, é de concluir que nem mesmo neste aspecto, Dadrá e Nagar Haveli saíram da sua discrição…
Obrigado pelo seu post! Desde que estive em Dadra e Nagar-Haveli que procurava saber mais sobre este lugar :)
ResponderEliminarOra essa.
ResponderEliminarAcho o seu post optimo! Si você desse a sua licencia gostaria de copiar alguns dos seus gravados e citar o seu trabalho numa publicaçao que estou a fazer sobre a queda do EP da India. Obrigadissimo.
ResponderEliminarJaime Garcia-Rodriguez y Alvarez
ex-diplomata Uniao Europeia
noitebras@gmail.com
Com certeza.
ResponderEliminarSe me puder dar as referências dessa publicação quando sair, agradecia.
Caro A. Teixeira:
ResponderEliminar¿Podrías dejarme una dirección de e-mail privada? Deseo envíarte las 6 primeras páginas del ensayo "Los Dientes del Tigre Portugués y el Hombre que Enamoró a Lady Edwina". Aunque está registrado, en tanto no termine el texto definitivo no deseo hacer público ningún fragmento.
Parabens! Jaime García-Rodríguez y Alvarez.
Caro Jaime García:
ResponderEliminarO meu contacto - que é privado - é também o do blogue:
HerdeirodeAecio@hotmail.com
Cumprimentos