26 setembro 2017

ARMAS PROIBIDAS: O TESTE T de STUDENT

«Vamos por partes. Cinco senhorios é uma amostra pequena e, obviamente, não é para se construir uma tese científica à sua volta. Mas, ao contrário do que se possa pensar, não é assim tão negligenciável. Por exemplo, imagine-se que, de facto, o racismo está morto e que a generalidade dos senhorios, digamos que 90%, não faz qualquer discriminação. Então a probabilidade de numa amostra de 5 não encontrar mais do que 2 que tratam os telefonemas de igual forma é de apenas 0,8%. Zero vírgula oito por cento. Não dá para construir uma tese científica, mas dá para tirar algumas conclusões, não?»
 
Luís Aguiar-Conraria é, além de um marginal, um fora da lei. Para já, não se entra em polémica com opinadores que escrevem para o mesmo jornal, como ele fez há coisa de umas quatro semanas com Helena Matos e Gabriel Mithá Ribeiro no Observador. Mas o grave mesmo é que, quando se desencadeia qualquer polémica em jornais, está implícito que nunca se podem usar armas proibidas, métodos estatísticos rebuscados, como foi o caso do seu recurso a testes t de Student como o que se pode ler na passagem acima. Não sei se Helena Matos ou Gabriel Mithá Ribeiro terão tido alguma cadeira formativa de Estatística, mas a polémica jornalística tem que ser chã e nela não se pode incluir argumentos que se revistam de hermetismo para o leitor médio. Teoricamente, o leitor médio costuma dominar a matéria com tanta profundidade quanto o polemista médio e isso costuma servir de argumento dissuasório para que não se venha armado para tais discussões. E o consenso tende a funcionar: João César das Neves até poderia explicar como se calcula a elasticidade procura/preço derivando a respectiva função (procura) mas aquele brilhante economista só se distingue publicamente pela sua incessante busca dos mistérios da fé. Neste caso concreto trata-se de estatística, apenas se pode recorrer à de trazer por casa, as médias e as percentagens, medidas de dispersão como a variância ou o desvio-padrão já estão muito para além do tolerável, o equivalente ao confronto físico, e então o recurso a distribuições (como a t de Student) é uma verdadeira navalha de ponta e mola.
 
Por outro lado, corroborando que a estatística jornalística é uma subespecialização da disciplina, não respeitando necessariamente as regras matemáticas desta, descobre-se mais recentemente no mesmo jornal que, um ponto percentual de diferença nas intenções de voto de uma sondagem conseguiu ser considerado um empate no Porto e, ao mesmo tempo, uma vantagem relevante em Lisboa. Nesta última subespecialidade, é Luís Aguiar-Conraria que tem imenso a aprender com Helena Matos.

2 comentários:

  1. É simples. Quem se declara não-racista ou está a enganar-se a si mesmo, ou está a tentar enganar os outros.

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  2. Não é simples. Isso só é verdade num certo sentido da palavra racista. Dependerá sempre do sentido que se lhe possa conferir. Mas olhe que o texto é sobre estatística, não sobre racismo.

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