14 maio 2013

COMO UM NOVO SOPRO DE MOLOCH

O infanticídio foi uma prática comum durante o período da Antiguidade clássica até à difusão do cristianismo. Em algumas sociedades, como a fenícia ou a cartaginesa, ele terá chegado a ser oficializado através de sacrifícios religiosos de crianças. Acima, pode apreciar-se uma reprodução em BD de uma dessas cerimónias numa Cartago que estava então cercada. Além das invocações ao deus Moloch – uma gigantesca estátua de bronze alada com uma cabeça de touro que funcionava como uma fornalha - servirem para levantar o moral dos cartagineses, as crianças sacrificadas deixavam de representar um fardo nos recursos sempre escassos de uma cidade sitiada. Em situações excepcionais o Estado podia arrogar-se o direito de reduzir o grupo etário mais dispensável à sua sobrevivência imediata.

Porém, vinte e três séculos depois a demografia modificou completamente a estrutura demográfica das sociedades modernas, as crianças tornaram-se agora um produto escasso enquanto os raros velhos de outrora agora abundam. Ainda não será preciso aniquilar estes últimos em qualquer altar, que o problema é de sustentabilidade e não de sobrevivência, mas quando se voltam a invocar situações excepcionais, tornam a ser os recursos atribuíveis ao grupo demográfico que menos importa os primeiros a serem sacrificados…

2 comentários:

  1. Pelo grafismo, temática e época, depreendo que a ilustração seja tirada de um álbum de Alix. Quanto a Moloch, tinha ideia dessa divindade infernal por ligação ao Baal semita (como os cartagineses provinham da Fenícia, deve ser uma derivação)e daquele filme mudo italiano, Cabiria.

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  2. É de facto originário de um álbum de Jacques Martin e de Alix: O Túmulo Etrusco, onde o deus é designado por Moloch-Baal.

    Convém não esquecer contudo que os autores originais onde estas descrições se foram inspirar eram, senão romanos, pró-romanos, inimigos jurados dos cartagineses nas guerras púnicas, e por isso haverá que as ler com algum cepticismo.

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