Embora eu desconfie sempre da agenda dos tópicos de que se fazem verificações nestes fact checks do Observador, acho muito natural que o jornal se socorra deles nesta fase pré-eleitoral, tanto mais quanto o assunto envolve a sua IL contra as mentiras mais descaradas do Chega e de André Ventura. A mentira foi grossa, grosseira, os 30% de imigrantes em Braga imaginados por Ventura cifram-se afinal em 3,3% no distrito e 6,6% na própria cidade! É para mim evidente que Ventura diz não-importa-o-quê. às vezes até verdades, mas-só-as-que-lhe-convêm! Mas a minha questão aqui é outra: é questionar a utilidade destes esclarecimentos. Ventura mentiu: e depois? As pessoas que votam nestes radicalismos acreditam naquilo que querem acreditar. Sempre foi assim: entre nós, durante pelo menos quinze anos (1974-1989) disse-se, demonstrou-se, insistiu-se que os padrões de vida das pessoas na União Soviética e nos outros países do Bloco Leste eram uma miséria quando comparados com os ocidentais. Só os militantes do PCP é que proclamavam que não. E havia quem acreditasse neles. Tanto era assim que o PCP obtinha resultados eleitorais - 18,8% nas eleições de 1979 - que, se eles viessem a ser obtidos pelo Chega em Março próximo, deixariam o nosso panorama político em estado de choque. Espero sinceramente que não, apesar dos 21% que se antecipam em algumas sondagens. Mas o que nunca é demais relembrar, destacando-o, é que existe uma franja do eleitorado de mais de um milhão de concidadãos (pelo menos...) para os quais a Verdade (ou a mentira) são irrelevantes para o seu processo de decisão quanto ao sentido do seu voto. Era e é assim mesmo: outrora eles (comunistas) até eram muito orgulhosos disso (veja-se abaixo), de terem uma verdade deles, mas esse é o preço da Verdadeira Democracia - todos votam (os que o quiserem fazer...) e o voto conta o mesmo para todos, mesmo para aqueles que são impermeáveis a argumentos que deviam ser lógicos.
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