17 fevereiro 2024

QUANDO SE ZANGAM AS COMADRES...

Para os últimos ingénuos, aqueles que ainda não haviam percebido como funciona o tandem noticioso formado pelo Ministério Público e pela Comunicação Social, a eclosão desta guerra civil na Justiça, pode servir de última oportunidade para compreenderem como os magistrados do MP plantam as suas notícias em prol das acusações que formulam com a completa cumplicidade dos jornalistas. É assim que se ficam a saber os detalhes das acusações - como dizia o outro, cagava-se ele, e todos se estarão a cagar para o segredo de justiça. Normalmente, quem está do outro lado não tem a mesma capacidade de plantar notícias, e o pouco que existe de contraditório são as declarações dos advogados à saída dos tribunais. Declarações essas que, surpresa!, são sempre absurdamente abonatórias em prol dos seus constituintes - mas defensivas, já que as acusações já foram plantadas. O que acontece neste «Caso da Madeira» (que, reparem no cimo da página, o Público classifica na secção de Política) é que o conflito, porque, por causa das três semanas de prisão preventiva para os três suspeitos principais, agora escalou para o embate às claras entre a Magistratura tradicional e o Ministério Público, se apresenta muito mais equilibrado, porque cada um dos lados tem capacidade para plantar as notícias que lhes convêm. Para recuperar os cabeçalhos da notícia acima, enquanto o MP acusa o juiz de ser um incompetente que não valoriza a profusão de envelopes com dinheiro que os seus encontraram nas buscas, do outro lado existe a constatação que os membros do MP são tão incompetentes que nem conhecem um mínimo dos procedimentos que evitem que os depoimentos que recolhem não acabem depois por ser invalidados por irregularidades formais. Noutro lado, pode ler-se em complemento que o «Ministério Público culpa o juiz», mas que o «Conselho Superior da Magistratura recusa averiguação» . De tudo isto um pouco extrai-se a sensação que vai sendo tempo do poder judicial dever ser seriamente escrutinado. Extrai-se também a sensação que aquele que costuma ser designado por Supremo Magistrado da Nação e que nos cansava por estar estar sempre a dizer coisas, agora nestas circunstâncias em que poderia dizer qualquer coisa, se calhar agora é que está calado de mais... «Ceterum censeo carthaginem esse delendam», continuo a defender que já devia ter começado o julgamento do Sócrates...

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