02 fevereiro 2024

»DESCASCANDO» UMA PEÇA DE PROPAGANDA ALEMÃ DA SEGUNDA GUERRA MUNDIAL

2 de Fevereiro de 1944. Esta notícia acima publicada nesse dia teria sido apenas mais uma peça de propaganda alemã da Segunda Guerra Mundial, que não me teria merecido especial atenção, não se desse o caso de nela os alemães quererem denunciar a distorção dos factos que, pelo seu lado, a propaganda britânica estaria a fazer. Aqui a acusação era que os britânicos estavam deliberadamente a minimizar a escala e as destruições provocadas por dois ataques aéreos que haviam sido realizados recentemente pela Luftwaffe nos céus do Reino Unido. Os números de referência serão os 900 aviões participantes no «raids», 750 dos quais seriam bombardeiros que haviam largado sobre Londres «muito mais de mil toneladas de bombas explosivas e incendiárias». As baixas haviam-se ficado por 4% dos aviões participantes («34 aparelhos»). Hoje podemos saber que, na realidade, os números alemães eram um exagero disparatado: a Luftwaffe dispunha naquela altura na Europa Ocidental de apenas 547 aviões, dos quais só 478 estavam operacionais, ou seja, capazes de voar. E havia sido verdade que a Luftwaffe lançara quase tudo o que tinha no primeiro raid de 21/22 de Janeiro (447 aviões) - ou seja (a conta é fácil de fazer) metade do que a propaganda acima anunciava. O resto do que aconteceu é apenas consequente com todo aquele exagero: o ataque de 29/30 de Janeiro já havia envolvido apenas 285 aviões alemães; nos dois ataques a Luftwaffe perdera 57 aparelhos (8% dos aviões engajados), muito mais do que os 34 admitidos, uma parte das perdas devera-se mesmo a questões mecânicas e não à acção britânica. Em suma, tudo aquilo que acima se pode ler era uma aldrabice de grande escala. Chamo a atenção para este caso para mostrar que as propagandas de guerra costumam ser aldrabices mas que podem ser aldrabices de escala e natureza diferente. Como aqui já chamei a atenção noutros casos, os britânicos eram mais finos, e tentavam distrair a atenção das notícias das derrotas ou dos fiascos militares, suprimindo-os ou dando publicidade a «vitórias alternativas»: por exemplo, o afundamento do Bismarck. Enquanto isso, os alemães, como neste caso acima se pode apreciar, eram de um primarismo que não se coibia de recorrer às mentiras mais grosseiras nas notícias de guerra. É o mesmo contraste de estilos de propaganda que agora se observa com a Ucrânia a seguir o estilo britânico, e a Rússia a mentir descaradamente, à alemã.

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