Mais uma vez o jornal publica uma (outra) sondagem e mais uma vez a jornalista encarregue da notícia - agora outra, São José Almeida - passa ao lado daquilo que considero um dos lados sociologicamente mais interessantes do exercício: fazer uma avaliação da sinceridade das respostas dos inquiridos. Enterrado lá para o fundo do artigo pode-se encontrar esta passagem que, de tão assertiva, até recuperei para ser título deste poste: «E 84% dos inquiridos dizem: "de certeza vai votar".» Ora os registos mostram que, desde 1980, quando atingiu os 84%, nunca mais a taxa de afluência às urnas em quaisquer eleições se tornou a aproximar daqueles valores. Portanto, ou a amostra da sondagem é enviesada, ou terá havido um número não negligenciável de inquiridos que mentiu por vergonha de assumir que não vai votar, adoptando aquela atitude evasiva tão popularizada pelos Deolinda: «vão sem mim que eu vou lá ter...» Ora eu creio que, como aconteceu com a repercussão social dos debates, convém também levar estas ressalvas em conta na seriedade que se possa atribuir às respostas obtidas.
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