19 fevereiro 2024

A TRANSFERÊNCIA DA CRIMEIA DA RÚSSIA PARA A UCRÂNIA

A 19 de Fevereiro de 1954, o Presidium do Soviete Supremo da União Soviética, sedeado em Moscovo no Kremlin (como se pode ler na área assinalada do documento acima), «tendo em consideração a integração económica da região, a proximidade territorial e os estreitos laços económicos e culturais entre a província da Crimeia e a República Socialista Soviética da Ucrânia», emite um Decreto transferindo a província da Crimeia da soberania da República Socialista Federativa Soviética Russa para a jurisdição da República Socialista Soviética da Ucrânia. À época, esta transferência teve um significado mais simbólico que substantivo: Ucrânia e Rússia faziam parte da mesma entidade política, a União Soviética, esta transferência era apenas uma mudança de uma fronteira interna do grande país. O problema passou a colocar-se de outro modo quando da desagregação da União Soviética em 1991 em que Rússia e Ucrânia se tornaram países distintos. E aí na Rússia mostrou-se a intenção de recuperar a Crimeia, tanto mais que a esmagadora maioria dos habitantes da península são russófonos. Foi o que aconteceu entre Fevereiro e Março de 2014. À época, a iniciativa de força por parte da Rússia provocou as suas ondas de choque, mas vale a pena recordar que ocorreu numa conjuntura em que uma iniciativa de cariz muito semelhante ocorrera numa outra parte da Europa e com o patrocínio dos Estados Unidos: a extracção do Kosovo à soberania sérvia. Não havia muita moralidade para se andarem a recriminar uns aos outros. Só que o assunto apresentava-se como encerrado na antiga Jugoslávia e está muito longe de assim ser com a Rússia nas suas fronteiras. A Rússia não se ficou pela Crimeia e invadiu a Ucrânia em Fevereiro de 2022 e hoje os dois países continuam em guerra. Como outrora aconteceu com a França do século XIX e a Alemanha do século XX, as ambições expansionistas da Rússia do século XXI são uma incógnita e um receio. Os outros países vizinhos da Rússia olham-na quase todos de viés. Contudo, paradoxalmente, registe-se que este gesto de há setenta anos havia sido apenas um expediente politico, sem se antever todas estas consequências.

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