Não deixa de ser um pouco paradoxal como os desenhos animados, que são afinal deliberadamente concebido para se valorizarem com a presença da cor, se tornaram em programas tão populares e tão apetecidos na programação de uma televisão que emitia… a preto e branco.
Jorge Alves, que era o apresentador de um programa que tratava da apresentação da programação para a semana seguinte chamado Cartaz TV, fazia questão de guardar sempre um restinho de tempo para uns efémeros 30 segundos finais de desenhos animados, conquistando assim uma audiência cativa por causa daquele meio minuto.
De memória, e procurando preservar o espírito do preto e branco com que nos entretinham na altura, descobri as imagens que aqui insiro de Mickey (todavia, as produções da Walt Disney raramente passavam na RTP) do Mighty Mouse, do Woody Woodpecker, do Bugs Bunny e do Porky Pig.
De memória, e procurando preservar o espírito do preto e branco com que nos entretinham na altura, descobri as imagens que aqui insiro de Mickey (todavia, as produções da Walt Disney raramente passavam na RTP) do Mighty Mouse, do Woody Woodpecker, do Bugs Bunny e do Porky Pig.
Depois do 25 de Abril de 1974 e com o aparecimento de Vasco Granja nos programas de animação na televisão, ainda a preto e branco, travou-se uma espécie de guerra-fria, embora fosse uma disputa suave, entre os filmes de animação do Leste e do Ocidente, onde o desfecho final prenunciou a derrota do socialismo que veio a acontecer em 1989.
É que a grande maioria dos espectadores só se dispunham a ver todos aqueles interessantes filmes de animação húngaros, polacos e soviéticos porque Vasco Granja – que era militante comunista, como só vim a descobrir este ano… – guardava inteligentemente os filmes que sabia terem mais sucesso (os norte-americanos) para o fim.
A tua crítica parece-me algo injusta, caro A. Teixeira... Eu era uma das crianças que "genuinamente apreciava as azougadas animações búlgaras e checas", e não me tornei como o Bernardino Soares - embora seja comunista... A minha mulher ainda é mais saudosa que eu desses desenhos animados, e é apolítica "tout court".
ResponderEliminarSinceramente, nem me lembro dos desenhos animados americanos que o
Vasco Granja passava, vê lá... Mas se calhar por sempre ter gostado de coisas "esquisitas" tornei-me "esquisito" - a excepção à regra - sei lá...
Mas tens razão no final, comunista ou não, com intuitos políticos ou não, o Vasco Granja teve um papel importantíssimo não só na divulgação da animação, mas também em nos fazer perceber que existiam outras culturas, com produtos culturais igualmente interessantes, para além dos anglo-saxónicos...
As caricaturas - todas as caricaturas - são sempre excessivas e esta, como se depreendia pela fraseologia - azougadas animações - não passava disso mesmo: uma caricatura que não pretendia melindrar ninguém. Se o fiz, que me desculpem. Agora, não quero deixar de ressalvar que as dúvidas de Bernardino Soares sobre o carácter democrático do regime norte-coreano, embora pareçam caricaturas, nunca foram apresentadas como tal...
ResponderEliminarMas a substância da evocação consiste na constatação como o mundo capitalista, mesmo neste universo, continha produções muito mais apelativas para a maioria das pessoas - era ver o que acontecia aos habitantes de países socialistas que podiam receber emissões de televisão ocidentais - e como se podia tentar começar a inculcar algum embrião de formação ideológica logo em programas infantis.
A palavra softpower ainda não era empregue, mas mesmo vistas a esta distância, as escolhas de Vasco Granja não me parecem nada inocentes.
Eu bem sei, eram outros tempos, onde mesmo a revista Tintin (onde Vasco Granja colaborava) tinha artigos de fundo com o título "Astérix Esquerdista", assinados por um tal de Numa Sadoul, onde Astérix era comparado a Miterrand e Obélix a Marchais... A genialidade de Goscinny e os putos que liam a revista como eu bem dispensariam tanta baboseira.
As nossas proximidades culturais e, por arrasto, a programação da nossa TV são definidas pela nossa geografia. Ir buscá-la predominantemente às terras eslavas do extremo oposto da Europa foi tão desiquilibrado como pretender que não existiam, como acontecia antes do 25 de Abril.
Tens razão quanto ao Bernardino Soares, obviamente - para mim, infelizmente, não é uma caricatura de comunista... Também em relação ao Vasco Granja as suas escolhas claramente não eram inocentes, estamos de acordo nesse ponto. Só não percebi que caricaturizavas a figura, em vez de a descrever, falhou-me o registo cómico no teu discurso - a diferença entre uma descrição e uma caricatura pode às vezes ser ténue...
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