12 setembro 2006

NESTE BARCO À VELA

Em 1987 já eu não tinha paciência para seguir, nem que fosse só por momentos, o Festival da RTP. Da assistência ao evento de outrora, estou convencido, apenas restava a dos indefectíveis que era, apesar de tudo, imensa. E o que me chamou a atenção na altura e serve de razão a este post foram as características do Duo vencedor, Nevada de seu nome.
No Portugal de Cavaco na sua primeira incarnação (1985-87), saído justamente de uma crise, parecia que havia alguns sintomas de verdadeira mudança no ar e que, com a sobriedade do professor, se estava a passar a dar atenção aos assuntos que de facto interessariam – como o emprego e o crescimento económico – e não a distracções como festivais de canções.

O duo vencedor do certame dava expressão a tudo isso, cantando a sua canção – Neste barco à vela, uma balada banalíssima – de uma forma displicente, com o vocalista a cantar o encore final de mão no bolso, a passar a imagem televisiva que tinha estado ali só em trânsito e que contava acabar a noite num sítio bastante mais interessante.

Depois da vitória de Dora no ano anterior (1986), a fazer figura de uma miúda reguila cantando Não sejas mau p´ra mim poderia pensar-se que o país, dominado pela tecnocracia cavaquista, já não estava disposto a conferir interesse e solenidade nenhuns ao certame, dando-lhe morte súbita, terminando rapidamente com a tradicional publicidade à sua volta.

Qual quê…! Em Julho de 1987 o PSD obtinha a maioria absoluta e agora, englobando quase todos, o cavaquismo perdia aquele carácter de vanguarda quase leninista dos primeiros tempos. O festival ainda regressaria às pompas de outrora - Dulce Pontes numa saia tão travada que nem a deixava andar... - num estertor prolongado ao longo de toda a década de noventa…

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