28 setembro 2006

FLÁVIO AÉCIO – II

Perdido entre um grandioso elenco de grandiosas figuras na história romana, nem deveria haver razões para que Aécio se destacasse pelos seus feitos considerando o peso da concorrência. Mas Aécio acaba por representar muito mais do que aquilo que foi como personagem histórica e terá sido isso a despertar o interesse dos grandes historiadores de Roma do passado como Gibbon ou Mommsen.

Consideraram estes que o assassinato de Aécio, perpetrado por ordens do imperador Valentiniano III, foi um verdadeiro suicídio político, que precipitou o desmoronamento final do domínio romano no Ocidente, extinto 22 anos depois, atribuindo Gibbon ao moribundo, como bom romântico que era, uma frase em que comparava o gesto do seu assassinato ao de alguém que usou a sua mão esquerda para decepar a sua mão direita.

Como o último dos romanos – a expressão também é de Gibbon e é repetidamente evocada desde então – Aécio representou para algum mundo de eruditos da história romana uma espécie de símbolo da grandeza do Império Romano que se perdera com as invasões bárbaras. E, por arrasto, também pode ser evocado como um símbolo da unidade europeia, especialmente da Europa ocidental.

Ao contrário de Carlos Magno, Carlos V, Napoleão ou Adolfo Hitler, que estavam a perturbar o status quo europeu enquanto construíam os seus impérios, a personagem de Aécio parece-nos muito mais simpática porque estava a defender esse status quo quando tentou preservar o que ainda restava do Império Romano no ocidente: na configuração moderna, Itália, França, Bélgica, Renânia (Alemanha), Suíça, Áustria, Croácia, Eslovénia, Espanha e Portugal.

E para quem pensa que há vantagens em abraçar o projecto de Unidade Europeia, que é a única forma da Europa ter um papel importante no futuro, há que não esquecer que o único projecto político de unidade europeia que, de facto, funcionou (e por 500 anos!) foi o do Império Romano. Vale a pena estudá-lo e compreender porquê…

5 comentários:

  1. Estou esclarecido em relação ao comentário que deixei no post Aécio - I! :)

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  2. Ainda bem, porque a pergunta do comentário anterior era extremamente pertinente o que me levou a tentar respondê-la.

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  3. Boa série de posts! Gostei. Não tinha associado o nome à personagem - conhecia-o como Estilicão...

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  4. A história de Gala Placídia também é apaixonante

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  5. Rantas, Estilicão (359-408) e Aécio (396-454) são duas personagens históricas distintas, muito embora as suas biografias sejam muito semelhantes: de origem mista, tornam-se os governantes de facto do império do ocidente e são assassinados por um grupo próximo da corte imperial.

    São tão semelhantes que há mesmo quem especule se parte dessa semelhança biográfica não resulte de "contaminação" por narrativa oral da história de um para a do outro (possivelmente para o mais novo - Aécio).

    Contudo, prova de que os tempos estavam a mudar rapidamente, coisas houve que Aécio fez que Estilicão ainda não pode fazer.

    O caso de Gala Placídia (390-450) de que falas é muito engraçado e também muito controverso porque na história das famílias imperiais romanas são muito raras as referências a mulheres: na dinastia Julio-Claudiana inicial (27 aC - 68 dC), na dos Severos (193-235) e nesta, de Teodósio (378-457).

    Se queres conhecer uma outra mulher também muito influente da mesma dinastia procura referências a Pulquéria (399-453), sobrinha de Gala Placídia, que foi o poder em Constantinopla durante quase toda a primeira metade do século V.

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