Brideshead Revisited (título traduzido em português para Reviver o passado em Brideshead) foi uma mini-série britânica para televisão de 1981, muito gabada, sobretudo devido à qualidade das interpretações, nomeadamente as de Jeremy Irons e de Anthony Andrews.
Passados 25 anos, é capaz de se reconhecer que a série talvez tenha sido mais gabada do que apreciada, como costumam ser aquelas produções britânicas para TV que agora nos são normalmente apresentadas acompanhadas do irritante lugar comum: com a qualidade a que nos habituou a BBC. Aqui, nem isso, porque se tratou de uma produção da ITV.
Mas onde se pode reviver um outro passado, e esse sem quaisquer dessas controvérsias, é nos artigos de Vítor Dias, publicados à Sexta-Feira no Público. Pela sua terminologia, parece que podiam ser todos escritos em 1981, quando os comunistas ainda integravam uma ampla coligação democrática chamada Aliança Povo Unido (APU), o Dr. Cunhal estava vivo e nem Vital Moreira, Zita Seabra ou Pina Moura tinham dúvidas.
No artigo de ontem (8 Setembro), antecipando a efeméride do 11 de Setembro de 2001, Vítor Dias aproveita para evocar o meio milhão de comunistas e outros democratas – que saudades desta expressão! Voltarei adiante a ela. – assassinados na Indonésia em 1961 na sequência do golpe do general Suharto e sob uma quase absoluta indiferença internacional. O episódio foi em 1965 mas percebe-se a sua ideia…
Felizmente já não houve troca de datas em relação aos milhares de cidadãos de esquerda mortos e torturados após um outro amargo e tristemente inesquecível 11 de Setembro (o de 1973) na sequência do golpe de Pinochet (telecomandado por Kissinger) no Chile. E, mais adiante, Vítor Dias arrisca que, no 11 de Setembro de 2001, se estava objectivamente perante o que, noutros casos, se costumava qualificar como uma enorme provocação (…) Noutros casos, talvez, neste caso insinua-se sem se comprometer...
É uma delícia tornar a escutar expressões de outrora como comunistas e outros democratas. Esclareça-se que esta segunda espécie era constituída por comunistas que tinham receio de se identificar como tal, enquanto ao partido convinha fazer figura que convivia com muita gente diferente. É claro que os tais outros democratas faziam (também) o que o partido mandava.
Contudo, para o seu artigo, terá escapado a Vítor Dias um dos maiores massacres de comunistas todos eles, milhões deles e sem necessidade de contar outros democratas e cidadãos de esquerda. Aconteceu nos finais dos anos 30 do século passado e costuma ser considerado como um sério, senão mesmo o mais sério revés para o movimento comunista internacional. Mas culpar Staline pode ainda ser qualificado como uma enorme provocação…
Sobretudo o que terá escapado a Vítor Dias – e o que escapa a um dirigente comunista ele raramente o recupera, a não ser em (XX...) Congresso… – é a diferença evidente nas circunstâncias em que aconteceram as mortes naqueles dois episódios evocados no seu artigo e as provocados pelo terrorismo moderno. Sem desculpar nenhuma delas, se morrer por ser (comunista) está errado, muito pior será morrer apenas por estar (no local errado e à hora errada). Politicamente, o objectivo deste último gesto só pode ser o terror indiscriminado.
Se por ser comunista, Vítor Dias não pode reconhecer que sabe reconhecer aquela diferença, então que reconheça para si, que a defesa da pureza da sua fé apenas o leva para opiniões que cada vez mais são escutadas apenas pelas franjas da sociedade. De uma forma simétrica àqueles padres que ainda se vestem de sotaina e cabeção, Vítor Dias, será, metaforicamente, uma espécie de (padre) comunista de sotaina e cabeção…
Passados 25 anos, é capaz de se reconhecer que a série talvez tenha sido mais gabada do que apreciada, como costumam ser aquelas produções britânicas para TV que agora nos são normalmente apresentadas acompanhadas do irritante lugar comum: com a qualidade a que nos habituou a BBC. Aqui, nem isso, porque se tratou de uma produção da ITV.
Mas onde se pode reviver um outro passado, e esse sem quaisquer dessas controvérsias, é nos artigos de Vítor Dias, publicados à Sexta-Feira no Público. Pela sua terminologia, parece que podiam ser todos escritos em 1981, quando os comunistas ainda integravam uma ampla coligação democrática chamada Aliança Povo Unido (APU), o Dr. Cunhal estava vivo e nem Vital Moreira, Zita Seabra ou Pina Moura tinham dúvidas.
No artigo de ontem (8 Setembro), antecipando a efeméride do 11 de Setembro de 2001, Vítor Dias aproveita para evocar o meio milhão de comunistas e outros democratas – que saudades desta expressão! Voltarei adiante a ela. – assassinados na Indonésia em 1961 na sequência do golpe do general Suharto e sob uma quase absoluta indiferença internacional. O episódio foi em 1965 mas percebe-se a sua ideia…
Felizmente já não houve troca de datas em relação aos milhares de cidadãos de esquerda mortos e torturados após um outro amargo e tristemente inesquecível 11 de Setembro (o de 1973) na sequência do golpe de Pinochet (telecomandado por Kissinger) no Chile. E, mais adiante, Vítor Dias arrisca que, no 11 de Setembro de 2001, se estava objectivamente perante o que, noutros casos, se costumava qualificar como uma enorme provocação (…) Noutros casos, talvez, neste caso insinua-se sem se comprometer...
É uma delícia tornar a escutar expressões de outrora como comunistas e outros democratas. Esclareça-se que esta segunda espécie era constituída por comunistas que tinham receio de se identificar como tal, enquanto ao partido convinha fazer figura que convivia com muita gente diferente. É claro que os tais outros democratas faziam (também) o que o partido mandava.
Contudo, para o seu artigo, terá escapado a Vítor Dias um dos maiores massacres de comunistas todos eles, milhões deles e sem necessidade de contar outros democratas e cidadãos de esquerda. Aconteceu nos finais dos anos 30 do século passado e costuma ser considerado como um sério, senão mesmo o mais sério revés para o movimento comunista internacional. Mas culpar Staline pode ainda ser qualificado como uma enorme provocação…
Sobretudo o que terá escapado a Vítor Dias – e o que escapa a um dirigente comunista ele raramente o recupera, a não ser em (XX...) Congresso… – é a diferença evidente nas circunstâncias em que aconteceram as mortes naqueles dois episódios evocados no seu artigo e as provocados pelo terrorismo moderno. Sem desculpar nenhuma delas, se morrer por ser (comunista) está errado, muito pior será morrer apenas por estar (no local errado e à hora errada). Politicamente, o objectivo deste último gesto só pode ser o terror indiscriminado.
Se por ser comunista, Vítor Dias não pode reconhecer que sabe reconhecer aquela diferença, então que reconheça para si, que a defesa da pureza da sua fé apenas o leva para opiniões que cada vez mais são escutadas apenas pelas franjas da sociedade. De uma forma simétrica àqueles padres que ainda se vestem de sotaina e cabeção, Vítor Dias, será, metaforicamente, uma espécie de (padre) comunista de sotaina e cabeção…
Vítor Dias não estará "congelado", à espera de uma "ressurreição" na qual já ninguém acredita, excepto os "frigorificados"?
ResponderEliminarQue tal apanhar um bocadinho de Sol, só para arejar as ideias?
Para contar anedotas (que só fazem rir quem não percebe - para não passar por estúpido!) há outros "artistas" muito mais dotados!!!
Meu caro A. Teixeira,
ResponderEliminarJá disse tudo aquilo que eu quereria dizer sobre os artigos de Vítor Dias.
Eles constituem um dos mais notáveis exercícios de amnésia que alguma vez me foi dado ver. No estranho mundo de Vítor Dias o comunismo não fez mal a uma mosca sequer. Não esteve na origem de dezenas de milhões de mortos, nunca silenciou brutalmente quem ousava ter a veleidade de expressar um pensamento discordante dos respectivos regimes, e não conduziu dezenas de povos às mais degradantes condições de vida que se possa imaginar. Não, nada disso. Nós é que somos pessoas más, mal intencionadas e, quiçá, um pouco retorcidas, que insistem em ver fantasmas onde eles não existem...
Por causa deste «post» eu até fui ler o artigo do Vítor Dias que tinha guardado para ler no fim-de-semana.
ResponderEliminarE, depois de ler este «post», só queria chamar a atenção para uma desonestidade e para um absurdo.
A desonestidade é que Vítor Dias não falou apenas do massacre da Indonésia e do golpe no Chile pois falou também nas duas centenas de milhar de civis iraquianos que morreram nas duas guerras - a do Golfo e a mais recente e que, pelos vistos, tais como muitos libaneses agora,estavam no local errado à hora errada.
Esta sonegação era essencial para o autor do «post» vir estabelecer a tal «diferença» que o comunista Vítor Dias não percebe : «é a diferença evidente nas circunstâncias em que aconteceram as mortes dos episódios que evoca no seu artigo e as provocados pelo terrorismo moderno. Sem desculpar nenhuma delas, se morrer por ser (comunista) está errado, muito pior será morrer apenas por estar (no local errado e à hora errada)».
Ora, mesmo quanto a esta diferença,há
algo a dizer: é que diferença haverá do ponto de vista de quem é responsável por massacres ou atentados como o 11 de Setembro e dos seus métodos ou objectivos. Mas do ponto de vista dos mortos não há diferença nenhuma porque a morte é a morte, não há morte muito melhor nem muito pior.
Quanto ao Staline,o autor do post não devia ignorar que há muito que o PCP se demarcou do estalinismo e até há um Congresso em que se refere aos seus «crimes».
A este respeito,há aliás um velho mistério: porque é que os comunistas portugueses hão-de ser responsabilizados por crimes cometidos a milhares de quilómetros por outros comunistas,quando muito justamente a meu ver, a ninguém passa pela cabeça responsabilizar os socialistas portugueses pelas guerras coloniais da França na Indochina e na Argélia só porque diversos ministros socialistas da IV República estiveram nelas envolvidos ( como, por exemplo, Mitterrand).
Por fim, por algumas reacções designadamente em blogs, o que me parece é muita gente não estava habituada a que um comunista fosse colunista do «Público» e não goste de ter de ler algumas coisas que destoam de outras opiniões.
Fernando Teixeira:
ResponderEliminarEu já escrevi anteriormente por aqui que não costumo debater religião com padres e, usando também o seu estilo directo, aquilo que escreveu parece a pura transcrição de dogmas de fé. Doutra fé, da sua fé possivelmente, mas dogmas porque para si são tais evidências que nem precisam de demonstração. Mas reconheça aos outros a necessidade dessas demonstrações.
Havendo infelizmente tantos massacres enormes, e pouco publicitados, ao longo da história o século XX (Arménia, Vietname, Cambodja, Afeganistão...), é logo azar Vitor Dias ter elegido os episódios que escolheu (onde as vitimas são comunistas, outros democratas, a esquerda), e na sequência em que o fez até chegar ao terceiro episódio, como se estivessem as mortes do Iraque na continuidade das anteriores...
Sendo uma opinião defensável é, definitivamente, um estilo "diferente" de apresentação manipuladora do problema...
E não tendo mencionado o artigo todo de Vitor Dias - a omissão que conduziu à tal desonestidade que refere - deixe-me recordar-lhe que o título do mesmo é... "Cinco Anos Depois" e é decorado com a fotografia das torres World Trade Center em chamas! Afinal descubro que nas poucas referências aos atentados em si tudo aquilo poderia ter sido qualificado como uma enorme "provocação"...
E estavámos nós a falar de
desonestidade Fernando Teixeira...
Mas confesso-lhe que o que me me chamou mais a atenção para a redacçõa do "post" foi mesmo a selecção dos massacres que serviu de introdução ao do do Iraque. Porque Vitor Dias parece ter vivido num século XX diferente do meu...
Um século XX que teve Hitler mas não Staline. Já agora, este argumento da responsabilização do PCP pelos crimes de Staline tem uns "bigodes" maiores que o do autor das grandes purgas.
Atente, Fernando Teixeira, NINGUÉM responsabilizou Vitor Dias, nem o responsabilizou a si, pelos crimes de Staline.
Apenas realçei a dualidade de critérios que, num artigo em que Vitor Dias pretende destacar massacres perpretrados contra comunistas e apresentá-los como vítimas (por analogia preparatória com as vítimas iraquianas) esquece o maior massacre - também muito esquecido (na Soeiro Pereira Gomes esquecidíssimo...)- onde, "por acidente", houve milhões de comunistas a serem punidos e mortos, paradoxalmente, pelos seus próprios camaradas de partido.
Eu não o reponsabilizo pelo Gulag como não responsabilizo qualquer católico pela Inquisição, ou qualquer alemão pelo Holocausto. Mas, se querem ser intelectualmente respeitados, não finjam, por acção ou por omissão, que esses acontecimentos não existiram...
Quanto ao discurso da vitimização, deixe-me dizer-lhe Fernando Teixeira, que esse é que é mesmo um estilo de 1981 quando o PCP tentava esticar ainda a ressaca das perseguições do fascismo! Já passaram 25 anos depois disso...
Ninguém os persegue, ninguém está com paciência para os perseguir, os dirigentes comunistas não são apreciados fora do seu meio porque são DESINTERESSANTES, porque falam TODOS da mesma maneira, agarram a esferográfica TODOS da mesma maneira, lambem os lábios para que não sequem TODOS da mesma maneira, empreguem as mesmas contruções gramaticais TODOS da mesma maneira (o paradoxo máximo é o de Jerónimo falando da NOSSA candidatura à Presidência - quando o cargo de PR é individual e pessoal!) e escrevem, com raras excepções (Ruben de Carvalho é uma delas) de uma forma BISONHA e usam um estilo de manipulação técnica que até é semelhante entre eles.
Por curiosidade, façam um teste cego - honesto - tentando distinguir um texto assinado por Vitor Dias de outro assinado por José Casanova...
Obviamente que estou convicto que as suas convicções são fundas. Tão fundas que nem conseguiu perceber a ironia do "post" quando falo de mudar de opinião apenas em Congresso. Eu, como qualquer outra pessoa que não tenha religião, mudo de opinião quando me engano ou quando me sinto enganado... Não preciso de conselheiro espiritual nem de Congresso.
A este respeito, não tenho capacidade para organizar um Congresso para si...
E chega de religião...
Aos meus caros comentadores Impaciente Português e Pedro Martins as minhas desculpas por não ter dado nota no enorme comentário anterior de qualquer reacção aos seus comentários.
ResponderEliminarÀs vezes, é preciso rebater a argumentação de quem está demasiado possuído da sua fé...
Todos sabemos c'a fé é que nos salva...
ResponderEliminarComo é que eu conseguia acordar sem café?
A diferença é que eu bebo-o; não aceito que queiram enfiar-mo pela cabeça!
Está mais do que desculpado, meu caro A. Teixeira. E, em meu modesto juízo, fez muito bem aquilo que tinha a fazer.
ResponderEliminarAceito todas as religiões, mas não pratico nenhuma...
ResponderEliminarO comunismo, como religião, muito mais que como política (nunca se sabe onde começa uma e acaba a outra!) vai pelo mesmo caminho que o panteísmo greco-romano.
É uma questão de tempo para que seja citado, pelos autores mais cultos, apenas como uma doutrina que fez uma época e que deixou poucos fiéis.
Quero agradecer os comentários manifestando simpatia e concordância que foram colocados depois da minha última intervenção.
ResponderEliminarPara eles e para aqueles que eventualmente sigam depois esta troca de impressões na caixa de comentários gostaria de acrescentar uma informação de que não dispunha na altura em que escrevi a minha resposta ao comentário do Fernando Teixeira.
É que Fernando Teixeira que me começou por dizer que "Por causa deste «post» eu até fui ler o artigo do Vítor Dias que tinha guardado para ler no fim-de-semana" descobriu este blogue por andar expressamente à procura de referências a "Vítor Dias" pela blogosfera...
Francamente, não consigo compatibilizar o anunciado interesse casual, quase displicente, pelo artigo de Vítor Dias com essa pesquisa deliberada do seu nome pela blogosfera.
A não ser que o tal interesse casual seja obviamente mentira... Da parte de quem assim começa um texto e, duas linhas depois, acusa o meu de desonestidade, é aquilo que eu chamo um desplante excessivo...
Na eventualidade (duvidosa) de cá voltar, deixe-me dizer-lhe Fernando Teixeira (se esse for o seu nome) que nem merece o insulto...
É que pratica a sua religião sem moral... E Marx tinha moral.