Com o título SOS Felicidade foi publicada uma trilogia de álbuns de BD, uma das capas encima o poste, da autoria de Griffo (desenho) e Van Hamme (argumento). Sem desmerecimento do primeiro o que torna a obra inesquecível é a imaginação posta pelo segundo na concepção de um futuro totalmente angustiante de tanta racionalidade. Originalmente publicada em 1988 e 89, só o primeiro volume veio a ser publicado em português pela Meribérica Liber, mas é uma obra que bem poderia reeditada actualmente pois, como qualquer bom argumento de ficção científica, os dezoito anos decorridos em nada a desvalorizaram, nem a desactualizaram.
Estruturado em diversos episódios abrangendo a organização das carreiras profissionais, dos planos de saúde, da ocupação dos tempos livres, do sistema judicial, a história evidencia como alguém se podia tornar num marginal na eventualidade dos seus registos pessoais desaparecerem subitamente do enorme banco de dados em que assentava a sociedade.Deixando entrever um pouco mais do enredo, mencionemos apenas que, nesse futuro, o estado, por ser o financiador dos serviços de saúde, se permitia ter uma polícia que verificava o grau de cumprimento dos tratamentos médicos, o que comiam ou se as pessoas se agasalhavam devidamente no Inverno...
É melhor nem mencionar o tratamento dado naquelas circunstâncias aos fumadores, nem será pertinente estabelecer qualquer relação com a recente decisão da proibição de fumar em todos os cafés, bares e restaurantes, independentemente do que o proprietário e os clientes possam pensar sobre o assunto. Um outro pormenor de SOS Felicidade que valerá a pena mencionar é a existência de um sistema judicial, centralizado, coerente, com as sentenças a serem todas entregues à responsabilidade de um grande computador central a quem competia ponderar a argumentação das partes. Em suma, tinha-se atingido a quimera da racionalização da justiça.
É esse desejo de racionalização que nos acorre quando vemos exemplos como este do jornal Le Monde, neste caso passado em França, quando nos apercebemos que o poder judicial, concebido também para controlar os outros poderes (executivo e legislativo), atinge os limites do ridículo na benevolência quando se trata de sancionar os seus próprios excessos. Habituados durante muito tempo a terem o papel de vigilantes da sociedade enquanto, ao mesmo tempo, não eram vigiados, os membros a diversos títulos do poder judicial não podem ou não querem aperceber-se que já perderam esse estatuto de impunidade na sociedade actual para os agentes da comunicação social.
São eles que tornam agora publicamente ridículo um proteccionismo que, parecendo novo, sempre grassou entre os membros do sistema judicial: seja o caso Outreau em França, em que se reconhece que se cometeram erros processuais enormes, mas ninguém os cometeu pessoalmente, seja o do juiz conselheiro português que nomeou o seu próprio sobrinho e que acha que ninguém tem nada a ver com isso. Temos assim dois problemas para a sociedade moderna. Os membros do poder judicial têm que mudar de vida. Os membros do poder comunicacional têm que ser vigiados porque deve lá haver episódios tão caricaturais como os dos juízes que eles fazem aparecer nos jornais. São dois bons assuntos a não deixar de debater mas, por amor de Deus, não com, nem a propósito de Manuel Maria Carrilho.
Estruturado em diversos episódios abrangendo a organização das carreiras profissionais, dos planos de saúde, da ocupação dos tempos livres, do sistema judicial, a história evidencia como alguém se podia tornar num marginal na eventualidade dos seus registos pessoais desaparecerem subitamente do enorme banco de dados em que assentava a sociedade.Deixando entrever um pouco mais do enredo, mencionemos apenas que, nesse futuro, o estado, por ser o financiador dos serviços de saúde, se permitia ter uma polícia que verificava o grau de cumprimento dos tratamentos médicos, o que comiam ou se as pessoas se agasalhavam devidamente no Inverno...
É melhor nem mencionar o tratamento dado naquelas circunstâncias aos fumadores, nem será pertinente estabelecer qualquer relação com a recente decisão da proibição de fumar em todos os cafés, bares e restaurantes, independentemente do que o proprietário e os clientes possam pensar sobre o assunto. Um outro pormenor de SOS Felicidade que valerá a pena mencionar é a existência de um sistema judicial, centralizado, coerente, com as sentenças a serem todas entregues à responsabilidade de um grande computador central a quem competia ponderar a argumentação das partes. Em suma, tinha-se atingido a quimera da racionalização da justiça.
É esse desejo de racionalização que nos acorre quando vemos exemplos como este do jornal Le Monde, neste caso passado em França, quando nos apercebemos que o poder judicial, concebido também para controlar os outros poderes (executivo e legislativo), atinge os limites do ridículo na benevolência quando se trata de sancionar os seus próprios excessos. Habituados durante muito tempo a terem o papel de vigilantes da sociedade enquanto, ao mesmo tempo, não eram vigiados, os membros a diversos títulos do poder judicial não podem ou não querem aperceber-se que já perderam esse estatuto de impunidade na sociedade actual para os agentes da comunicação social.
São eles que tornam agora publicamente ridículo um proteccionismo que, parecendo novo, sempre grassou entre os membros do sistema judicial: seja o caso Outreau em França, em que se reconhece que se cometeram erros processuais enormes, mas ninguém os cometeu pessoalmente, seja o do juiz conselheiro português que nomeou o seu próprio sobrinho e que acha que ninguém tem nada a ver com isso. Temos assim dois problemas para a sociedade moderna. Os membros do poder judicial têm que mudar de vida. Os membros do poder comunicacional têm que ser vigiados porque deve lá haver episódios tão caricaturais como os dos juízes que eles fazem aparecer nos jornais. São dois bons assuntos a não deixar de debater mas, por amor de Deus, não com, nem a propósito de Manuel Maria Carrilho.
Tema complexo. Ainda agora escrevi sobre ele no meu blog.É a velha questão de quem guarda o guarda ( ou de quem fiscaliza o fiscal). Mas o jornalismo talvez esteja pior que a magistratura. Parece-me.
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