15 junho 2006

DE UMA EUROPA A OUTRA EUROPA


A propósito do poste anterior, onde se fala de uma Europa que pretende caminhar para a unificação, mas que ainda está dividida, vale a pena regressar ao Império Romano dos séculos IV e V, onde existia um Império a caminho da divisão, mas que estava ainda unificado.

As cronologias mais sintéticas dão o ano de 395 da nossa era como a data da separação definitiva entre os Impérios Romanos de Ocidente e de Oriente. É simples, fica bem para o professor José Hermano Saraiva explicar na televisão, mas a verdade é mais complexa.

A separação foi-se fazendo gradualmente, desde 286, data em que o Império teve os seus dois primeiros imperadores que se reconheciam reciprocamente, num sistema que veio a ser designado por tetrarquia: dois imperadores seniores e dois imperadores juniores, cada qual com a sua área de responsabilidade.

Depois disso a normalidade foi a coexistência de vários imperadores com uma área regional a seu cargo, umas vezes aceitando-se, outras combatendo-se. Quis o acaso que entre 394 e 395 fosse o ano em que, pela última vez, houvesse um só imperador para todo o conjunto imperial: Teodósio.

Só muito depois a data da sua morte assumiu o valor simbólico que os contemporâneos do acontecimento nunca pensaram que tivesse. Assumiram que, naturalmente, algures no futuro, um outro acidente dinástico tornaria a reunir as duas metades do Império Romano mais uma vez.

Por isso, a fronteira que separou Ocidente e Oriente, Roma e Constantinopla, nunca esteve hermeticamente fechada. Flávio Aécio, de quem este blogue se reclama herdeiro, foi um grande general do Império do Ocidente e, contudo, havia nascido cidadão romano, mas em terras do Império do Oriente, na Mésia (a actual Bulgária), já depois de 395.

Visto de uma certa perspectiva, esta União Europeia recomeça de onde o antigo Império Romano terminou: numa tetrarquia de titulares do poder executivo (Alemanha, Reino Unido, França e Itália), complementados com mais alguns potentados regionais de menor expressão, ameaçada pela invasão dos bárbaros que, desta vez, se apresentam pelo Sul, mas felizmente desarmados.

Como alguém escreveu: são tempos interessantes.

Sem comentários:

Enviar um comentário