Perto de minha casa existe um pequeno estabelecimento ocupado pelo PCP. Concebido para uma ocupação comercial, os seus ocupantes adaptaram-no e toda a ampla superfície envidraçada inicialmente destinada a exposição foi pintada de um branco sujo que não deixa ver o interior da loja. No meio, o símbolo e o nome do partido: uma bela metáfora de quem se pretendia autodesignar num certo período como o partido das paredes de vidro…
Desde o tempo em que Álvaro Cunhal descreveu o seu partido como tendo paredes de vidro, sendo o partido comunista, de longe, o mais opaco de todos os partidos do espectro político português, sempre desconfiei da utilização de qualquer metáfora associada à ideia de transparência. Onde ela existe de verdade, não precisa de ser invocada.
Uma das ideias recorrentes entre os defensores da supremacia do funcionamento dos mercados sobre outros modelos é o da transparência dos seus operadores que se reflecte no processo de decisão dos consumidores. Claro que isto apenas acontece naqueles mercados que funcionam em situações ideais, com as quais nunca nos deparamos na realidade. É assim como a água que, no livro de química mas só aí, é insípida, inodora e incolor.
Mas, se a transparência entre concorrentes parece ser um estado difícil de obter, também parece os produtores consideram não ser desejável que ela aumente, segundo esta notícia publicada no Le Monde. Assim, a cadeia de supermercados francesa Leclerc resolveu criar um site onde comparava os seus preços com os da concorrência. E, naturalmente, as comparações eram muitas vezes facciosas a favor da Leclerc. Transparentemente facciosas.
O que não é novo nem original. Alguém se questiona porque é que as estrelas dos prestigiados guias Michelin vão quase todas para os restaurantes franceses? Houvesse um guia Pirelli e era certo que nele as estrelas – ou o equivalente - acabariam todas atribuídas às pizzarias… O que é importante realçar é que a concorrência estava no direito e tinha a liberdade de abrir os seus próprios sites com as suas próprias análises comparativas de preços - facciosas.
Não foi esse o entendimento do Tribunal de Comércio de Paris que mandou a cadeia encerrar o site. O mais engraçado foi a aliança na oposição que parece ter sido firmada entre os concorrentes da Leclerc e as associações de consumidores (não especificadas na notícia) que assim se arriscavam a perder o seu poder de intermediários para aparecerem na comunicação social interpostos entre comerciantes e consumidores.
O que parece ser transparente, em matérias de transparência, é que parece andar meio mundo a enganar transparentemente o outro meio.
Desde o tempo em que Álvaro Cunhal descreveu o seu partido como tendo paredes de vidro, sendo o partido comunista, de longe, o mais opaco de todos os partidos do espectro político português, sempre desconfiei da utilização de qualquer metáfora associada à ideia de transparência. Onde ela existe de verdade, não precisa de ser invocada.
Uma das ideias recorrentes entre os defensores da supremacia do funcionamento dos mercados sobre outros modelos é o da transparência dos seus operadores que se reflecte no processo de decisão dos consumidores. Claro que isto apenas acontece naqueles mercados que funcionam em situações ideais, com as quais nunca nos deparamos na realidade. É assim como a água que, no livro de química mas só aí, é insípida, inodora e incolor.
Mas, se a transparência entre concorrentes parece ser um estado difícil de obter, também parece os produtores consideram não ser desejável que ela aumente, segundo esta notícia publicada no Le Monde. Assim, a cadeia de supermercados francesa Leclerc resolveu criar um site onde comparava os seus preços com os da concorrência. E, naturalmente, as comparações eram muitas vezes facciosas a favor da Leclerc. Transparentemente facciosas.
O que não é novo nem original. Alguém se questiona porque é que as estrelas dos prestigiados guias Michelin vão quase todas para os restaurantes franceses? Houvesse um guia Pirelli e era certo que nele as estrelas – ou o equivalente - acabariam todas atribuídas às pizzarias… O que é importante realçar é que a concorrência estava no direito e tinha a liberdade de abrir os seus próprios sites com as suas próprias análises comparativas de preços - facciosas.
Não foi esse o entendimento do Tribunal de Comércio de Paris que mandou a cadeia encerrar o site. O mais engraçado foi a aliança na oposição que parece ter sido firmada entre os concorrentes da Leclerc e as associações de consumidores (não especificadas na notícia) que assim se arriscavam a perder o seu poder de intermediários para aparecerem na comunicação social interpostos entre comerciantes e consumidores.
O que parece ser transparente, em matérias de transparência, é que parece andar meio mundo a enganar transparentemente o outro meio.
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