Há uma história muito engraçada associada ao retorno de Napoleão ao poder, durante o que se veio a chamar os 100 dias. Abandonando a ilha de Elba para onde fora desterrado, Napoleão regressou a França nos finais de Fevereiro de 1815. As forças enviadas pela monarquia restaurada para o defrontar juntavam-se a ele.
Os títulos das notícias das edições consecutivas do jornal oficial, o Monitor, dão uma imagem fiel do ritmo do desmoronamento da autoridade do reino de Luís XVIII:
Os títulos das notícias das edições consecutivas do jornal oficial, o Monitor, dão uma imagem fiel do ritmo do desmoronamento da autoridade do reino de Luís XVIII:
O ogro da Córsega acaba de desembarcar no golfo Juan.
O tigre chegou a Gap.
O monstro dormiu em Grenoble.
O tirano atravessou Lyon.
O usurpador está a quarenta léguas da capital.
Bonaparte avança a grandes passos, mas nunca entrará em Paris.
Napoleão estará amanhã em frente das nossas muralhas.
O imperador chegou a Fontainebleau.
Sua Majestade Imperial entrou ontem no Castelo das Tulherias, no meio dos seus fiéis súbditos.
Esta sucessão de títulos parecem ser anedota, mas aconteceram de facto. Mas, não fosse a celeridade do avanço de Napoleão e a inversão de 180º ter-se-ia produzido a um ritmo que fosse mais digno e mais fácil de disfarçar. É assim que costuma e continua a acontecer, 191 anos passados sobre os 100 dias de Napoleão.
Vejamos esta notícia do Diário Económico do passado dia 2 de Junho, respeitante a um relatório que a Comissão Europeia irá divulgar sobre o cumprimento das metas de contenção do défice orçamental a que Portugal se propôs:
A Comissão Europeia (CE) revelou hoje ter dúvidas sobre a capacidade de Portugal em reduzir o seu défice orçamental em 1,5 pontos percentuais este ano, bem como quanto à capacidade do país de conseguir ter um défice orçamental inferior a 3% até 2008, estando por isso sujeito a acção disciplinar por défice excessivo.
Vejamos como o mesmo assunto volta a ser noticiado no mesmo Diário Económico, agora no dia 19 de Junho:
A Comissão Europeia acredita que o prazo fixado para o governo português baixar o défice público até 2008 para um valor inferior ao limite de 3% corre riscos de não vir a ser concretizado, mas não irá recomendar a aplicação de mais medidas de disciplina orçamental ao país por agora.
Segundo se lê num dos desenvolvimentos da notícia, será no próximo dia 22 de Junho que o famigerado Relatório será finalmente tornado público.
Será esse o dia que o Diário Económico escolherá para anunciar que Sua Majestade Imperial chegou finalmente às Tulherias e que o cumprimento do défice orçamental para 2006 por parte do governo português afinal até nem tem tanta importância quanto isso?
PS - É para isto e por isto que os assessores de imprensa têm que ser bem pagos, com os ordenados que ontem noticiava o jornal Público.
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