11 junho 2006

UM TREVO DE QUATRO FOLHAS PARA MARI ALKATIRI

Há um mês e pouco atrás, se me tivessem perguntado quem era Mari Alkatiri, eu teria respondido que era o primeiro-ministro timorense e que não sabia mais nada dele. Hoje, pouco mais sei dele, a não ser que é um tipo que tem tido realmente muito azar e todo ele compactado neste último mês.

O último episódio dessa cadeia de azares foi uma acusação de que Alkatiri estaria a montar um grupo de milícias destinada a eliminar os seus inimigos políticos. Não fossem todas as outras acusações que já lhe fizeram, e esta seria uma para levar a sério num país com o baixo grau de civismo político de Timor-Leste. Mas há o detalhe das milícias terem de operar perante as forças australianas, neozelandesas, malaias e portuguesas que se encontram no país, o que transforma a existência da tal milícia numa monumental estupidez política.

Não sei se é da natureza humana, mas é da minha natureza começar a simpatizar com alguém a quem acontecem tantas vicissitudes consecutivas. Alkatiri pode não merecer essa simpatia - possivelmente nem a merece mesmo - mas se todos os pães lhe caem com o lado da manteiga para o chão, apetece ir ver se não lhe puseram um contrapeso nas carcaças para que isso acontecesse de propósito.

Mas o pormenor mais engraçado desta notícia estava eu para o descobrir. Quando, depois de ler o artigo sobre o assunto publicado no Diário de Notícias, pretendi ver uma outra versão do mesmo, mas agora publicada na imprensa australiana, descobri, no The Australian, que ali, e certamente por razões sentimentais parecidas com as nossas, os artigos sobre Timor-Leste parecem ser considerados como assuntos nacionais e devidamente publicados na respectiva página dos assuntos nacionais…

Foi uma agrádavel surpresa descobrir os australianos como uns verdadeiros sentimentalões que fazem suas as mágoas de que padece o seu pequeno vizinho. E uma lição para nós, portugueses, que nos gostamos de gabar do nosso sentimentalismo, do fado e da lágrima fácil - embora já tenhamos perdido o presidente certo para isso.

Noutras circunstâncias, todos estes episódios até poderiam ser mal interpretados, imagine-se a azia do embaixador espanhol em Lisboa se José Sócrates considerasse o presidente da Xunta de Galícia um incompetente ou se o Diário de Notícias passasse a noticiar os acontecimentos de Vigo e da Corunha na página dos assuntos nacionais. Mas não é o caso aqui, o embaixador de Timor em Camberra sabe muito bem que tudo tem sido feito com a melhor das intenções.

Ainda havemos de concluir que todas estas nossas pequenas divergências com a Austrália foram provocadas por excesso de sentimentalismo das duas partes. Mas não estou seguro que haja algum trevo de quatro folhas que ainda salve Mari Alkatiri. O que tenho mais certo é que, no fim de tudo, na opinião das fontes mais bem informadas aqui em Portugal e aconteça o que acontecer, a culpa terá sido de Freitas do Amaral!

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