Já serão poucos os que ainda se lembram de marcas de produtos de consumo que fizeram furor nos anos 60 e 70, como foram os casos do desodorizante Byly ou do creme depilatório Taky, primeiros indícios de que o povo português se começava a preocupar com bagatelas como o odor corporal e a pilosidade feminina.
A frase que acompanhava a promoção ao creme depilatório era uma verdadeira antologia da boa publicidade. Duas ou três meninas, onde se adivinhavam uns 15 a 20 minutos de ensaios prévios, declamavam com a ênfase escassa que o tempo permitira: - É verdade! Taky é milagre! Não há pêlo que lhe resista!
O Taky e o Byly, como os caldos Brandão, a laranjada Bem Boa, a pasta medicinal Couto ou as misturas de café, cevada e chicória da Tofa desapareceram há muito. É pacífico considerar que, pelo seu preço e qualidade, eram produtos só se mantinham devido ao proteccionismo aduaneiro que as protegia da concorrência. Mas esta é apenas uma meia verdade.
Em Espanha, por inércia dos consumidores e pela dimensão do mercado, alguns dos produtos vetustos da era do proteccionismo permanecem em comercialização e em posição dominante. Lá continua-se a vender o Taky e o Byly, pois então. Os refrigerantes espanhóis, por exemplo, onde existia a inolvidável marca La Casera e onde hoje predomina a marca Fanta, são geralmente absolutamente intragáveis, mas parece ser um caso perdido explicar isso a qualquer espanhol. Enfim, ¡calidad española!
Mas foi em Portugal que falava Belmiro de Azevedo quando o ouvi referir-se à Autoridade da Concorrência (AdC), criticando-a por não estar a pensar em termos globais quando se fala do mercado dos operadores de telemóveis. Resumindo o caso, Belmiro, que detém a Optimus e que pretende adquirir a TMN do grupo PT, ficando com cerca de 2/3 do mercado português (o resto é da Vodafone) não concorda com a objecção que a AdC faz a esta concentração.
A argumentação de Belmiro seria risível não fosse a sua intenção de ser levado a sério: a concorrência devia ser analisada a nível mundial, onde a Vodafone é líder, e por isso protegê-la, neste caso, é estar a proteger os fortes contra o fraco Belmiro. Note-se que não se desmente que, com 2/3 do mercado português, o bloco TMN/Optimus poderia fixar os preços que muito bem entendesse e a Vodafone teria que se adaptar.
Pelos vistos, deve ter escapado a Belmiro a evidência que o propósito da AdC, operando e tendo autoridade em Portugal, é o de proteger os interesses portugueses, representados sobretudo nos consumidores. E estes, numa situação desvantajosa, não se preocupam verdadeiramente com a nacionalidade de quem está a abusar da sua posição monopolista. Veja-se o exemplo recente dos abusos demonstrados na transmissão dos jogos do Mundial pela TV Cabo, da nossa querida e simpática PT pública.
Mais, deviam considerar antipática e descarada a atitude de quem só quando lhe interessa vem apelar à simpatia de ser compatriota. É nestas alturas que se percebe que a figuras como Belmiro, por muito que encham as bocas com palavrões como modernidade e globalização, não lhes desdenharia nem desistiram de regressar ao ambiente protegido em que medravam as fabriquetas de Taky.
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