21 junho 2006

AFEGANISTÃO

Longe da exposição mediática a que os acontecimentos no Iraque têm estado a ser expostos, os do Afeganistão vão-se desenrolando em paralelo para uma conclusão que se afigura previsível: mais um estado esfrangalhado, uma manta de retalhos que bem poderá ser idêntica à do mapa que ornamenta este post.

Para justificar as disputas por um determinado país, os comentadores costumam agrupar os países em três grupos: os países ricos em recursos (é fácil explicar as causas pela disputa do Koweit e do seu petróleo), os países potencialmente ricos em recursos (no caso do Chade, por exemplo, não tendo petróleo, pode ter umas jazidas inexploradas de níquel ou molibdénio – minerais estratégicos!) ou – argumento fatal para justificar o interesse das potências pelo país quando a terra é pobre e os habitantes paupérrimos – é porque ocupa uma posição estratégica.

Todos os países pelas leis da física ocupam uma posição, compete à imaginação dos comentadores especializados nestes assuntos arranjar as razões para que ela se torne estratégica. E normalmente, com jeito, arranjam-se. Até a Mongólia Exterior ocupa uma posição estratégica: basta descobrir um oleoduto que a atravesse que ligue a Rússia e a China.

E o Afeganistão pertence ao grupo destes países que só se tornam importantes pensando na sua posição estratégica. E é por não terem interesse nenhum que se tornam num frete, quando se ocupam militarmente, como aconteceu com os britânicos no século XIX, os soviéticos na década de 1980 e agora com os Estados Unidos que, depois de derrubarem os taliban, chamaram a NATO para ver se se conseguiam despegar do assunto para dedicar mais atenção ao Iraque.

No Afeganistão, para além da infinidade de milícias com os seus santuários geográficos, e as consequentes combinações infinitas de alianças que se podem fazer entre elas, há a curiosidade do contingente NATO ser também ele muito variado, associando cerca de 30 países, alguns deles (como a Austrália) não pertencendo mesmo à organização.

Pese embora toda a boa vontade das nações envolvidas (entre as quais se conta Portugal), pensando na eficácia do conjunto na eventualidade de a situação se agravar, sinto-me tentado a concordar com o comentário de um antigo chefe militar que, quando lhe perguntaram o que pensava da extensa variedade de exércitos nacionais que estavam sob o seu comando, respondeu que faziam uns desfiles de um colorido ímpar!

1 comentário:

  1. Há muita papoila no Afeganistão. Mas não há assim tanta riqueza no Afeganistão por causa das papoilas.

    Segundo estimativas, os custos de produção e transporte na origem representam apenas 5 a 10% do preço de revenda do produto final aos consumidores (heroína no caso).

    No caso de outro país e de outra droga, mas ainda assim comparável, a importância do famoso Pablo Escobar começou quando os colombianos se passaram a encarregar do transporte e da entrega da cocaína nos Estados Unidos.

    É na intermediação que está o risco e o dinheiro, não na produção.

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