Há coisa de quase uns trinta anos, lembro-me de ter lido em A Bola (pois, então!) o relato de uma animada assembleia-geral do Benfica em que se discutia, para além da aprovação do relatório e das contas do exercício, o abandono da regra que impunha que a sua equipa de futebol fosse composta apenas por portugueses.
Esclarecendo de antemão que não sou benfiquista, recordo-me ainda que a narrativa (já não me lembro quem a assinava) era fascinante, horas a fio com argumentos a favor e contra a inclusão de estrangeiros, a tradição contra o progresso, fez-se uma votação passadas mais de cinco horas de discussões, o Benfica podia passar a jogar com estrangeiros.
Nos cinco ou dez minutos posteriores, à pressa e às três pancadas, aprovou-se o relatório e contas do exercício transacto, nem eu me lembro se com lucro ou com prejuízo. Este é um exemplo tipicamente português (não se ufanassem os benfiquistas do seu clube ser o mais português que há…) de discutirem os seus problemas conforme lhes apetece e gostam, esquecendo a sua premência, a sua pertinência e a sua importância.
Naquele caso daquela reunião, uma das consequências – a do assunto que demorou mais tempo - foi a contratação de César, avançado do América, para fazer parelha com Nené. Lembram-se do César? Outras das possíveis consequências foi a que João Vale e Azevedo se apercebeu que quase ninguém prestava atenção às contas nas assembleias-gerais do clube e deu em aldrabá-las completamente. Lembram-se do Vale e Azevedo?
Esta propensão, muito nossa, de nos desnortearmos quanto aos assuntos, torno a encontrá-la em artigos e posts recentes questionando-se sobre as razões da presença do contingente da GNR e de Portugal em Timor-Leste. Não que não ache a pergunta extremamente pertinente, que o é, de facto, mas não é uma pergunta actual, porque o que havia para ser decidido, já foi.
E foi-o, se bem se recordam, logo nos dois dias seguintes às notícias da eclosão dos problemas em Timor, com o primeiro-ministro de acordo o presidente, e os dois de acordo com todos os partidos políticos com assento parlamentar, com excepção do Bloco, o que até nem foi surpresa. Um verdadeiro consenso nacional, portanto.
Eu, naquela altura, até achava que não se perdia nada em esperar até tomar uma decisão, e bem posso desconfiar que não foi inocente a celeridade com que ele foi tomada, numa espécie de jogo da vermelhinha de salão, em que a resposta iria ser sempre a que o governo queria ouvir. Tanto mais que se lhe sucedeu uma semana e meia a aboborar pelo envio efectivo do contingente da GNR, para não falar do envio, por mar, do equipamento complementar.
Mas agora, tal como 8.327 (só numa estimativa...) artigos que já se pronunciaram contra a intervenção norte-americana no Iraque, os substancialmente menos que se interrogam sobre o propósito da presença portuguesa em Timor gozam também da mesma fraqueza prática: uns e outros já lá estão e trata-se agora, para os que consideram isso um erro, de saber como sair dignamente de onde estão.
Ora se posso fazer uma síntese daquilo que considero que pode ter acontecido recentemente em Timor, só que contado de uma maneira mais imaginativa, digamos que a Austrália estava na disposição de montar em Timor Leste uma espécie de peça teatral, de que era a autora, fazia a cenografia e encarregava-se também da direcção de actores.
Aconteceu que um país-actor (Portugal), convidado para o elenco, deu em reclamar, segundo alguns, de uma forma exuberante demais, sobre o papel que lhe queriam atribuir, o que aborreceu sobremaneira a Austrália. Transferida a produção do evento para a ONU, aguarda-se qual será a nova forma do guião.
Vista a questão neste enquadramento, questionar o nosso envolvimento em problemas que ocorrem do outro lado do Mundo, por muito que julgue a questão pertinente, tenho que a considerar apenas inoportuna, porque o que está a acontecer está a envolver Portugal, independentemente do que se escreve em jornais ou blogues.
Esclarecendo de antemão que não sou benfiquista, recordo-me ainda que a narrativa (já não me lembro quem a assinava) era fascinante, horas a fio com argumentos a favor e contra a inclusão de estrangeiros, a tradição contra o progresso, fez-se uma votação passadas mais de cinco horas de discussões, o Benfica podia passar a jogar com estrangeiros.
Nos cinco ou dez minutos posteriores, à pressa e às três pancadas, aprovou-se o relatório e contas do exercício transacto, nem eu me lembro se com lucro ou com prejuízo. Este é um exemplo tipicamente português (não se ufanassem os benfiquistas do seu clube ser o mais português que há…) de discutirem os seus problemas conforme lhes apetece e gostam, esquecendo a sua premência, a sua pertinência e a sua importância.
Naquele caso daquela reunião, uma das consequências – a do assunto que demorou mais tempo - foi a contratação de César, avançado do América, para fazer parelha com Nené. Lembram-se do César? Outras das possíveis consequências foi a que João Vale e Azevedo se apercebeu que quase ninguém prestava atenção às contas nas assembleias-gerais do clube e deu em aldrabá-las completamente. Lembram-se do Vale e Azevedo?
Esta propensão, muito nossa, de nos desnortearmos quanto aos assuntos, torno a encontrá-la em artigos e posts recentes questionando-se sobre as razões da presença do contingente da GNR e de Portugal em Timor-Leste. Não que não ache a pergunta extremamente pertinente, que o é, de facto, mas não é uma pergunta actual, porque o que havia para ser decidido, já foi.
E foi-o, se bem se recordam, logo nos dois dias seguintes às notícias da eclosão dos problemas em Timor, com o primeiro-ministro de acordo o presidente, e os dois de acordo com todos os partidos políticos com assento parlamentar, com excepção do Bloco, o que até nem foi surpresa. Um verdadeiro consenso nacional, portanto.
Eu, naquela altura, até achava que não se perdia nada em esperar até tomar uma decisão, e bem posso desconfiar que não foi inocente a celeridade com que ele foi tomada, numa espécie de jogo da vermelhinha de salão, em que a resposta iria ser sempre a que o governo queria ouvir. Tanto mais que se lhe sucedeu uma semana e meia a aboborar pelo envio efectivo do contingente da GNR, para não falar do envio, por mar, do equipamento complementar.
Mas agora, tal como 8.327 (só numa estimativa...) artigos que já se pronunciaram contra a intervenção norte-americana no Iraque, os substancialmente menos que se interrogam sobre o propósito da presença portuguesa em Timor gozam também da mesma fraqueza prática: uns e outros já lá estão e trata-se agora, para os que consideram isso um erro, de saber como sair dignamente de onde estão.
Ora se posso fazer uma síntese daquilo que considero que pode ter acontecido recentemente em Timor, só que contado de uma maneira mais imaginativa, digamos que a Austrália estava na disposição de montar em Timor Leste uma espécie de peça teatral, de que era a autora, fazia a cenografia e encarregava-se também da direcção de actores.
Aconteceu que um país-actor (Portugal), convidado para o elenco, deu em reclamar, segundo alguns, de uma forma exuberante demais, sobre o papel que lhe queriam atribuir, o que aborreceu sobremaneira a Austrália. Transferida a produção do evento para a ONU, aguarda-se qual será a nova forma do guião.
Vista a questão neste enquadramento, questionar o nosso envolvimento em problemas que ocorrem do outro lado do Mundo, por muito que julgue a questão pertinente, tenho que a considerar apenas inoportuna, porque o que está a acontecer está a envolver Portugal, independentemente do que se escreve em jornais ou blogues.
Cinicamente e já que chegámos aqui, pode perguntar-se: o que está a Austrália disposta a ceder para nos deixarmos de lhe apoquentar a vida? Porque, convém não esquecer, num certo aspecto também é conveniente para a Austrália que as forças militares/policiais em Timor contem com a colaboração de mais países, se possível mesmo do outro lado do mundo, para conferir ao conjunto um carácter o mais desinteressadamente multinacional possível...
É verdade, foi mesmo Jorge Gomes, o primeiro estrangeiro contratado cá dentro, enquanto César deve ter sido o primeiro, mas dos contratados lá fora.
ResponderEliminarAliás, esta contratação de Jorge Gomes continuou numa tradição de reforços vindos do Boavista a altos custos mas de qualidade muito variável.
Sobretudo, é para mim um privilégio ter os meus posts que envolvam assuntos de futebol dos idos tempos sujeitos à revisão técnica do António Cagica.
Pelo lapso, que penso não altera o conteúdo do post, as minhas desculpas.
Tenho muitas dúvidas sobre toda esta situação timorense. Mas uma certeza tenho eu : a Austrália não está lá pelo seu amor ao povo timorense. "It´s the oil stupid !" . Os portugueses, esses, foram para lá , romanticamente, como é nosso fado. Claro que a política internacional não se rege por romantismos. Mas a nossa posição é moralmente forte . E isso para mim basta .
ResponderEliminar...olá! a propósito do Sr Jorge Gomes, alguem me pode informar se ele chegou a ser treinado pelo Sr Eriksson?...
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