Torna-se engraçado quando se descobre que é uma contracapa de álbum de BD que se torna o símbolo da constância e da continuidade de um herói. A contracapa é essa que aí está acima, onde o herói, evidentemente Lucky Luke, é um atirador tão rápido que dispara mais rápido que a própria sombra.
É aquela mesma contracapa, constante em todos os meus álbuns do herói e apesar de um pormenor nela de que falarei mais adiante, que, na minha opinião, faz o verdadeiro traço de ligação entre os mais de 50 anos da história de Lucky Luke (1949-2001), que se veio a tornar uma verdadeira legenda da ideia europeia do Oeste americano.
E ao longo desses 50 anos assistiu-se, no cinema, ao apogeu do género western puro nos anos 50 (Johnny Guitar), à sua reciclagem europeizada (O Bom, o Mau e o Vilão) nos anos 60, à saturação e desaparição do género nos anos 70, a regressos pontuais com algum sucesso nos anos 80 (Silverado) e 90 (Unforgiven) até às versões mais exóticas da actualidade (Brokeback Mountain).
Lucky Luke também foi evoluindo com o tempo e, de uma fase inicial quase infantil – no desenho e nos argumentos – englobando os quatro ou cinco primeiros álbuns (1949-53) passou a uma nova fase, mais elaborada, em que são visíveis os progressos de álbum para álbum (1954-58) nos cinco seguintes. Morris tornou-se um excelente desenhador e um bom contador de histórias.
Depois, esse bom contador de histórias deixou-se de histórias e associou-se a um genial contador delas chamado René Goscinny. E nos vinte anos seguintes, a colaboração entre os dois deu origem à constelação das grandes estrelas que ainda hoje povoam o universo de Lucky Luke: mencione-se apenas Jolly Jumper, Ran Tan Plan e os Dalton, os mais frequentes.
Nesta fase, as histórias de Goscinny já não são propriamente histórias do Oeste. São as histórias imaginadas por Goscinny que decorrem no Oeste por causa de Lucky Luke ser um cow-boy. Simultaneamente, algo de semelhante se estava a passar com Astérix, onde Goscinny passou a aplicar a sua ironia criativa à actualidade através de um cenário da Gália da época da Antiguidade Clássica.
As consequências viram-se – nos dois casos - com a morte prematura, em 1977, aos 51 anos, de René Goscinny. Como aviões em voo, que perderam subitamente os motores, as histórias destes dois grandes heróis da BD franco-belga têm vindo, a partir daí, a perder altitude, planando, procurando manter-se o maior tempo possível no ar, ao mesmo tempo que tentam encontrar o local mais conveniente para aterrar no solo.
Tudo isto aconteceu ao mesmo tempo que a promoção editorial das obras atingiu níveis excelentes de profissionalização, traduzidos em números recordes de vendas. É nesse espírito profissional que o Lucky Luke que atira mais rápido que a própria sombra perde a eterna beata que o enfeitava e para gáudio do correcção política e com as felicitações da Organização Mundial de Saúde a substitui por um foleiro pauzinho.
Recordo-me que, no início da sua aparição em Portugal, um dos argumentos mais fortes para a popularidade deste tipo de BD franco-belga era a qualidade da sua produção artesanal, do próprio desenhador, por contraste com a industrial, de desenhadores profissionais, das produções Disney. E isso era perfeitamente perceptível.
Parece-me que essa diferença já se esbateu completamente, a não ser que nos queiram persuadir que Morris, quando tinha os seus setenta e tal anos, e Uderzo, com os seus actuais setenta e nove, ainda interviessem e intervenham significativamente na produção das obras que saíram e saem assinadas com o seu nome.
Depois de sucessivas desilusões já nem me atrevi a comprar o último álbum de Astérix, assim como já não o fazia com os de Lucky Luke. É pena. Como parece estar para acontecer (bem) com Zinedine Zidane, o jogador francês, o segredo da história de uma grande carreira pode estar na habilidade de se saber acabá-la, com dignidade e a tempo.
Bibliografia
1. La mine d'or de Dick Digger
2. Rodéo
3. Arizona
4. Sous le ciel de l'Ouest
5. Lucky Luke contre Pat Poker
6. Hors-la-loi
7. L'élixir du Dr Doxey
8. Lucky Luke contre Phil Defer
9. Des Rails sur la Prairie
10. Alerte aux Pieds Bleus
Início da colaboração de Goscinny
11. Lucky Luke contre Joss Jamon
12. Les Cousins Dalton
13. Le juge
14. Ruée sur l'Oklahoma
15. L'évasion des Dalton
16. En remontant le Mississippi
17. Sur la piste des Dalton
18. À l'ombre des derricks
19. Les rivaux de Painful Gulch
20. Billy the Kid
21. Les collines noires
22. Les Dalton dans le blizzard
23. Les Dalton courent toujours
24. La Caravane
25. La ville fantôme
26. Les Dalton se rachètent
27. Le vingtième de cavalerie
28. L'escorte
29. Des barbelés sur la prairie
30. Calamity Jane
31. Tortillas pour les Dalton
32. La diligence
33. Le pied-tendre
34. Dalton-City
35. Jesse James
36. Western Circus
37. Canyon Apache
38. Ma Dalton
39. Chasseur de primes
40. Le Grand Duc
41. L'héritage de Ran-Tan-Plan
42. 7 histoires complètes - série 1
43. Le cavalier blanc
44. La guérison des Dalton
45. L'empereur Smith
46. Le fil qui chante
Extra. La ballade des Dalton
Morte de Goscinny
47. Le magot des Dalton
48. Le bandit manchot
49. Sarah Bernhardt
50. La corde du pendu
51. Daisy Town
52. Fingers
53. Le Daily Star
54. La fiancée de Luky Luke
55. La ballade des Dalton et autres histoires
56. Le ranch maudit
57. Nitroglycérine
58. L'alibi
59. Le Pony Express
60. L'amnésie des Dalton
61. Chasse aux fantômes
62. Les Dalton à la noce
63. Le pont sur le Mississipi
64. Belle Star
65. Le Klondike
66. O.K. Corral
67. Marcel Dalton
68. Le prophète
69. L'artiste-peintre
70. La légende de l'ouest
É aquela mesma contracapa, constante em todos os meus álbuns do herói e apesar de um pormenor nela de que falarei mais adiante, que, na minha opinião, faz o verdadeiro traço de ligação entre os mais de 50 anos da história de Lucky Luke (1949-2001), que se veio a tornar uma verdadeira legenda da ideia europeia do Oeste americano.
E ao longo desses 50 anos assistiu-se, no cinema, ao apogeu do género western puro nos anos 50 (Johnny Guitar), à sua reciclagem europeizada (O Bom, o Mau e o Vilão) nos anos 60, à saturação e desaparição do género nos anos 70, a regressos pontuais com algum sucesso nos anos 80 (Silverado) e 90 (Unforgiven) até às versões mais exóticas da actualidade (Brokeback Mountain).
Lucky Luke também foi evoluindo com o tempo e, de uma fase inicial quase infantil – no desenho e nos argumentos – englobando os quatro ou cinco primeiros álbuns (1949-53) passou a uma nova fase, mais elaborada, em que são visíveis os progressos de álbum para álbum (1954-58) nos cinco seguintes. Morris tornou-se um excelente desenhador e um bom contador de histórias.
Depois, esse bom contador de histórias deixou-se de histórias e associou-se a um genial contador delas chamado René Goscinny. E nos vinte anos seguintes, a colaboração entre os dois deu origem à constelação das grandes estrelas que ainda hoje povoam o universo de Lucky Luke: mencione-se apenas Jolly Jumper, Ran Tan Plan e os Dalton, os mais frequentes.
Nesta fase, as histórias de Goscinny já não são propriamente histórias do Oeste. São as histórias imaginadas por Goscinny que decorrem no Oeste por causa de Lucky Luke ser um cow-boy. Simultaneamente, algo de semelhante se estava a passar com Astérix, onde Goscinny passou a aplicar a sua ironia criativa à actualidade através de um cenário da Gália da época da Antiguidade Clássica.
As consequências viram-se – nos dois casos - com a morte prematura, em 1977, aos 51 anos, de René Goscinny. Como aviões em voo, que perderam subitamente os motores, as histórias destes dois grandes heróis da BD franco-belga têm vindo, a partir daí, a perder altitude, planando, procurando manter-se o maior tempo possível no ar, ao mesmo tempo que tentam encontrar o local mais conveniente para aterrar no solo.
Tudo isto aconteceu ao mesmo tempo que a promoção editorial das obras atingiu níveis excelentes de profissionalização, traduzidos em números recordes de vendas. É nesse espírito profissional que o Lucky Luke que atira mais rápido que a própria sombra perde a eterna beata que o enfeitava e para gáudio do correcção política e com as felicitações da Organização Mundial de Saúde a substitui por um foleiro pauzinho.
Recordo-me que, no início da sua aparição em Portugal, um dos argumentos mais fortes para a popularidade deste tipo de BD franco-belga era a qualidade da sua produção artesanal, do próprio desenhador, por contraste com a industrial, de desenhadores profissionais, das produções Disney. E isso era perfeitamente perceptível.
Parece-me que essa diferença já se esbateu completamente, a não ser que nos queiram persuadir que Morris, quando tinha os seus setenta e tal anos, e Uderzo, com os seus actuais setenta e nove, ainda interviessem e intervenham significativamente na produção das obras que saíram e saem assinadas com o seu nome.
Depois de sucessivas desilusões já nem me atrevi a comprar o último álbum de Astérix, assim como já não o fazia com os de Lucky Luke. É pena. Como parece estar para acontecer (bem) com Zinedine Zidane, o jogador francês, o segredo da história de uma grande carreira pode estar na habilidade de se saber acabá-la, com dignidade e a tempo.
Bibliografia
1. La mine d'or de Dick Digger
2. Rodéo
3. Arizona
4. Sous le ciel de l'Ouest
5. Lucky Luke contre Pat Poker
6. Hors-la-loi
7. L'élixir du Dr Doxey
8. Lucky Luke contre Phil Defer
9. Des Rails sur la Prairie
10. Alerte aux Pieds Bleus
Início da colaboração de Goscinny
11. Lucky Luke contre Joss Jamon
12. Les Cousins Dalton
13. Le juge
14. Ruée sur l'Oklahoma
15. L'évasion des Dalton
16. En remontant le Mississippi
17. Sur la piste des Dalton
18. À l'ombre des derricks
19. Les rivaux de Painful Gulch
20. Billy the Kid
21. Les collines noires
22. Les Dalton dans le blizzard
23. Les Dalton courent toujours
24. La Caravane
25. La ville fantôme
26. Les Dalton se rachètent
27. Le vingtième de cavalerie
28. L'escorte
29. Des barbelés sur la prairie
30. Calamity Jane
31. Tortillas pour les Dalton
32. La diligence
33. Le pied-tendre
34. Dalton-City
35. Jesse James
36. Western Circus
37. Canyon Apache
38. Ma Dalton
39. Chasseur de primes
40. Le Grand Duc
41. L'héritage de Ran-Tan-Plan
42. 7 histoires complètes - série 1
43. Le cavalier blanc
44. La guérison des Dalton
45. L'empereur Smith
46. Le fil qui chante
Extra. La ballade des Dalton
Morte de Goscinny
47. Le magot des Dalton
48. Le bandit manchot
49. Sarah Bernhardt
50. La corde du pendu
51. Daisy Town
52. Fingers
53. Le Daily Star
54. La fiancée de Luky Luke
55. La ballade des Dalton et autres histoires
56. Le ranch maudit
57. Nitroglycérine
58. L'alibi
59. Le Pony Express
60. L'amnésie des Dalton
61. Chasse aux fantômes
62. Les Dalton à la noce
63. Le pont sur le Mississipi
64. Belle Star
65. Le Klondike
66. O.K. Corral
67. Marcel Dalton
68. Le prophète
69. L'artiste-peintre
70. La légende de l'ouest
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