09 junho 2006

REGRESSÃO E CORRELAÇÃO

Eu só consigo imaginar as angústias de escolher os cabeçalhos de primeira página de um jornal de grande circulação. Contudo, ao ler certos resultados finais, penso que há dias em que um teste de despistagem (vulgo, soprar o balãozinho) não teria vindo a despropósito para evitar a tristeza de certas figuras.

No Público de hoje, dia 9 de Junho, consta um título grande, a vermelho, EUA eliminam líder da Al-Qaeda no Iraque mas moderam optimismo. Até aqui, excelente. O problema vem a seguir com o subtítulo: Morte de Zarqawi fez baixar preço do petróleo para menos de 70 dólares.

Sabe qualquer estudante de estatística que seja aplicado, qual é a diferença entre a técnica de regressão e a correlação. A primeira estabelece a função (traduzida no exemplo acima numa recta) que melhor sintetiza a relação entre dois acontecimentos independentes. A correlação, por sua vez, é o raciocínio que explica e sustenta a relação existente entre os dois acontecimentos.

No gráfico representado, a relação traçada é entre a quantidade total de fósforo e a que é de origem orgânica nas amostras de água recolhidas de um lago. Mas sem correlação, outros gráficos podem haver, com a mesma aparência, mas onde os acontecimentos não parecem ter nada a ver entre si: imagine-se um associando o número de televisores em utilização e o consumo de petróleo. Terá um aspecto bastante parecido com aquele, quantos mais televisores há, mais petróleo se consome, mas a conclusão que se poderá daí extrair é um disparate evidente: os televisores não funcionam a petróleo!

Assim sendo, matar Zarqawi e fazê-lo baixar o preço do barril de petróleo por causa da sua morte pode ser uma dedução extemporânea, para além da impossibilidade científica da hipótese ser testada: é que está fora de questão poder matar Zarqawi vezes sucessivas para verificar quais seriam as reacções do mercado de cada vez que aparecesse morto.

Nas páginas interiores do jornal, a notícia que desenvolve o subtítulo, mais extensa e mais sóbria, remete a causa do abaixamento do preço também à saturação das reservas dos grandes países consumidores, descida de preço essa que, aliás, já se vinha a registar nos dois dias anteriores. Absurdo por absurdo, que tal usar este? Morte de Zarqawi afectou o discernimento do jornalista responsável pela escolha dos cabeçalhos do Público

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