Se, no caso do Comissário Maigret de Jean Richard, comecei a conhecer a composição do actor na série* de que falei na minha nostalgia anterior quase ao mesmo tempo de que conhecia a sua descrição literária, no caso do George Smiley de Alec Guinness, descobri os livros de John Le Carré algum tempo antes da RTP ter começado a transmitir as séries Tinker, Tailor, Soldier, Spy e Smiley´s People**, produzidas pela BBC e que cá passaram no princípio da década de 80.
Mas o efeito produzido é o mesmo: para mim, Jean Richard é Maigret e Alec Guinness é George Smiley. Terá ajudado que, num caso como noutro, os autores originais (Georges Simenon e John Le Carré) tenham estado associados à adaptação dos seus contos para televisão? Muito provavelmente sim, porque um e outro estão impregnados daquele sentir profundo que nos é transmitido pela leitura e que os autores procuraram atribuir às suas personagens.
É curioso como, com Alec Guinness, o veja a desempenhar outros papéis noutros filmes de uma forma natural, mas isso verifica-se sem reciprocidade porque não concebo que mais alguém possa vir a ser um George Smiley credível. O mesmo se passa com Maigret, onde vejo as séries com os sucessivos sucessores de Jean Richard a fazerem de, mas nunca a serem o, Comissário imaginado por Simenon.
Em contrapartida, foi preciso esperar pelos anos 90, anos depois da morte de Agatha Christie, para aparecer uma série de TV com um Hercule Poirot que fosse credível, na pessoa de David Suchet, depois de uma versão histérica de Albert Finney no filme Crime no Expresso do Oriente (1975) e outra de Peter Ustinov no filme Morte no Nilo (1978) onde o actor (uns avantajados 1,82m de altura!) fazia de si mesmo, só que, por conveniência do enredo, se deixava tratar por Poirot...**Eu posso sugerir que haja uma edição portuguesa em DVD das séries de John Le Carré mencionadas mas a Prisvídeo está dispensada de as editar: tremo só de pensar como é que o seu responsável pelas capas iria traduzir Thinker, Taylor, Soldier, Spy...
Gostos não se discutem e, desta vez, tenho de discordar do venerável Herdeiro.
ResponderEliminarMaigret é só um, o grande, o insuperável Jean Gabin.
Só ele tem a estatura, a fleuma, o olhar pesado (quase bovino), a voz possante, a malícia e a força telúrica de Jules Maigret.
Vi-o, nos finais dos anos 50, no filme "L'Affaire Saint-Fiacre".
Desde então, quando leio Simenon, oiço Maigret, imagimo Gabin.
Désolé, mon cher Héritier. Sans rancune...
Vi e tenho (em DVD) esse filme, conjuntamente com o "Maigret tend un piège", onde Jean Gabin faz de Comissário Maigret.
ResponderEliminarGabin tem todos os predicados que lhe aponta, está quase lá...
Mas, por exemplo, não sabe pegar no cachimbo, fumar o cachimbo, tirar a cinza do cachimbo (batendo-o contra o tacão do sapato como Simenon ensinou a Jean Richard)...
E um Maigret que não é cumplice com o seu cachimbo, o passatempo das suas longas esperas e da sua fleuma, é um Maigret a que lhe falta um "je ne sais quoi"...
Sans rancune...