16 outubro 2006

O PROGRAMA NUCLEAR DA TURQUIA

Quando em 7 de Outubro último, o presidente do Egipto, Hosni Mubarak disse em entrevista publicada pelo semanário egípcio As Forças Armadas que o seu país tem direito a usar energia nuclear com fins pacíficos, toda a gente entendeu o seu recado. Aliás, nada mais eloquente do que a escolha de um jornal intitulado As Forças Armadas para realçar o uso pacífico que se pretende fazer da energia nuclear…

A chamada proliferação nuclear tem destas coisas. É um pouco como aquele sentimento que nos faz invejar as coisas do nosso vizinho e, quantos mais países passarem a dominar o armamento nuclear, tantos mais vizinhos invejosos aparecerão. Pela estimativa de El Baradei, o director da Agência Internacional de Energia Atómica (AIEA), eles poderão ser actualmente uns 20 ou 30.

E não será difícil deduzir quais serão, siga-se apenas a geografia da proliferação, de que um dos seus eixos – o detentor do armamento nuclear justifica a sua aquisição pela posse do mesmo por parte do país que o antecede – terá começado nos Estados Unidos (começam sempre…), União Soviética, China, Índia, Paquistão, Irão… até aos próximos candidatos da série que serão a Arábia Saudita, a Turquia e precisamente o Egipto.

Por isso mesmo, não deve constituir qualquer surpresa no mundo profissional das informações militares o anúncio feito agora por Mubarak, nem deve ser brilhante a dedução que sauditas e turcos devem estar agora mesmo – se já não estivessem antes… – a dedicar os seus melhores esforços á obtenção de meios que lhe permitam dispor das matérias primas necessárias para a construção de um dispositivo nuclear.

Pelos vistos, como já deu para perceber mesmo no mundo dos leigos, num engenho nuclear o segredo estará na pureza do material utilizado e nos processos conducentes a obtê-la, e não a técnica de construção do engenho, cujos princípios parecem estar banalizados. Aliás, especula-se agora como terá sido uma falta de pureza do material nuclear explosivo que teria estado por detrás do alegado fracasso do teste norte-coreano.

Em certas ocasiões, é por pequenas coisas que não acontecem que se podem perceber melhor a profundidade de certos assuntos. Se o recente diferendo franco-turco, a propósito da criminalização da opinião sobre o genocídio arménio em França tivesse raízes sérias, era uma manobra muito provável que a máquina propagandística francesa tivesse feito saltar para a luz do dia a existência de um programa nuclear turco.

A imagem de uma Turquia à procura de uma bomba atómica seria capaz de arrasar, por muitos anos e bons, em termos de opinião pública, a sua imagem e as veleidades da sua adesão à União Europeia. Assim como está o assunto, com muita parra e pouca uva (apenas 1/5 dos deputados votaram a lei na Assembleia Nacional), mostra bem onde os responsáveis franceses o querem: como uma manobra política (canhestra) de consumo interno…

8 comentários:

  1. Agradeço a atenção, ainda para mais quando é complementada com a distinção de ser considerado um blogue histórico.

    A linha temática do Herdeiro, como o subtítulo diz, é sobretudo sobre tudo.

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  2. Então e a História Constitucional e Política Portuguesa, tem algo a dizer, em linhas gerais acerca disso? E já agora, e História, em termos evolutivos da civilização, do Antigo Egipto, e desde então até aos dias de hoje? Bom dia/Boa tarde/Boa Noite

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  3. Há alguns comentários que não têm resposta. Há outros que não merecem resposta.

    Mas este último é de compreensão difícil e desperta inquietações, parece pairar numa "twilight zone" entre a saninade e a insanidade mental.

    Sente-se bem, Tikal?

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  4. Plenamente.
    Ao contrário de pessoas mal educadas que insultam os outros ao primeiro comentário e têm mentes limitadas. Passe Bem.

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  5. E já agora, o seu blog é maçudo, se não fosse o interesse puro na matéria, ninguém jamais o leria.

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  6. E já que estamos com a mão na massa, ao menos o Vital faz coisas úteis.

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  7. Isso é que era vontade de insultar, de ser levada a sério...

    Mas, que lhe posso dizer ou sugerir?

    Que a minha mente é limitada e o meu blogue maçudo, e que é melhor escrever ao Vital (é que ele não aceita comentários, sabia?...) para que, na sua utilidade, possa finalmente saber se ele "tem algo a dizer, em linhas gerais, sobre a História Constitucional e Política Portuguesa"... Ou sobre "História, em termos evolutivos da civilização, do Antigo Egipto, e desde então até aos dias de hoje?"

    Já reparou que conseguiu associar a dislexia a uma espécie de ignorância petulante naquelas duas questões?...

    Sinceramente, cuide-se...

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