17 outubro 2006

O PRESIDENTE TRAVESSO

É muito positivo que se tenha procedido à apresentação pública do Relatório da ONU sobre os acontecimentos de Timor de Abril e Maio deste ano. Considero-o um relatório mais sábio, no sentido de sensato (estão disponíveis as suas conclusões em versão sintética e integral), do que propriamente rigoroso. Não em relação aos acontecimentos em si, pois não tenho fontes alternativas de informação para comparar, mas em relação à forma como estão redigidas as atribuições de responsabilidades.

No geral, compartilho as opiniões expressas no seu blogue por Paulo Gorjão quanto à existência nele de algum facciosismo (ele chama-lhe condescendência) pró-Gusmão na forma como se analisam o apuramento das responsabilidades pelos acontecimentos. Podem nele ler-se, na versão sintética, censuras dirigidas tanto a Taur Matan Ruak (o Chefe das Forças Militares) como a Mari Alkatiri (Primeiro-Ministro) – presumo que bem fundamentadas - incluindo algumas sobre aquilo que poderiam ou deveriam ter feito em determinadas circunstâncias.

Contudo, aplicando escrupulosamente essa mesma lógica à actuação do Presidente Xanana Gusmão, depois de se saber tudo aquilo que veio a ser publicado depois a seu respeito (e da esposa…), não só na imprensa portuguesa como também na australiana, restarão poucas dúvidas que Xanana também poderia e deveria ter tido outra conduta em todo o processo e por isso também poderia vir a ser censurado no relatório. A omissão disso na redacção deste relatório da ONU dever-se-á provável e sensatamente a Razões de Estado.

Restar-nos-á o consolo de não ter sido necessário considerar quaisquer Razões de Estado nas investigações efectuadas a respeito de um outro presidente, o de Israel. Senão, em vez das conclusões da notícia “Ministério Público de Israel começa a redigir acusação contra o Presidente”, haveria um outro relatório, a concluir que o presidente poderia ter sido, uma vez por outra, um pouco mais travesso com as suas empregadas e que às vezes estas levavam as brincadeiras a mal, mas nada mais que isso…

2 comentários:

  1. É necessária alguma maturidade para distinguir as instituições e as pessoas que as representam.

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  2. A Verdade afinal tem muitos matizes...

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