16 outubro 2006

SOBRE AS VANTAGENS DO FACTOR CASA EM PARTIDAS DE FUTEBOL

Reza uma história não muito antiga, a respeito de um comerciante europeu que se estava para instalar no Próximo Oriente – possivelmente o Egipto – e de uma possível associação que ele estaria para fazer com um comerciante local que acabou por não se concretizar. Só que o potencial sócio local sentiu-se lesado e resolveu levar o comerciante a tribunal o que o obrigou a recrutar um advogado local, brilhante segundo as recomendações ouvidas e caríssimo segundo os honorários pedidos.

Durante o julgamento, e segundo o que o comerciante se conseguia aperceber, a parte contrária ia apresentando testemunhas consecutivas que tinham presenciado a cena onde o nosso comerciante assumir o compromisso de pagar uma elevada quantia ao potencial sócio. Isto estava a acontecer perante a indignação crescente do nosso comerciante – a cena nunca tivera lugar – que, pior do que os falsos testemunhos, não conseguia compreender de todo as razões da impassibilidade do seu advogado nem descortinar a forma como estava a conduzir o seu caso.

Estava apopléctico até chegar a vez da defesa responder. E, pelas cinco testemunhas apresentadas pela acusação que haviam presenciado o compromisso, a defesa apresentou dez testemunhas que haviam presenciado o pagamento da promessa incluindo ainda juros compensatórios que não faziam parte do compromisso original. Que género de pessoa era aquela que, além de não se mostrar devidamente reconhecida, vinha para ali litigar demonstrando tanta má-fé? Ganhou o caso…

A lição que se costuma desta história extrair é que, num país onde o perjúrio é tão barato e onde ele não parece ser sancionado, se a parte contrária o usa convém que também o usemos. É o que se chama, cinicamente, dançar ao som da música que está a ser tocada. Agora a respeito de um outro assunto completamente diferente, recentemente em Moscovo uma selecção portuguesa perdeu perante a sua congénere russa por 4-1, num jogo onde o árbitro internacional teve uma actuação que se pode considerar menos feliz.

Uma semana depois, em Portugal, a selecção portuguesa derrotou a sua homóloga russa por 3-0. Agora calhou a vez aos jornais russos de tecer apreciações menos positivas sobre o trabalho da equipa da arbitragem da partida. Mesmo antes do caso Apito Dourado ter exposto a propensão das equipas de arbitragem para apreciarem fruta no quarto, toda a gente sabia que o facto das equipas que jogam em casa serem as anfitriãs da equipa de arbitragem, dá uma grande moral aos jogadores que jogam no seu estádio e perante o seu público…

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