21 maio 2015

UMA OUTRA HISTÓRIA COM UM GATO DAS BOTAS, MAS SEM BOTAS, NÃO VÁ O GATO SER CONSIDERADO FETICHISTA

Em abstracto, a fotografia acima seria a de um gato a brincar com um peluche. Onde o sentido de oportunidade do fotógrafo apanhara o gato naquela posição equívoca – e por isso mesmo engraçada – em relação ao peluche, o Egas (da Rua Sésamo), que parecia estar a ser enrabado pelo gato. Mas isso seria em abstracto, porque em concreto a fotografia acima bem pode correr o risco de ser considerada homofóbica e, por isso, condenável. Não porque o gato tivesse adquirido uma consciência social súbita do que é o decoro e da correcção política daquilo de que não se deve troçar, mas porque de há muito que existe uma tentativa para atribuir ao Egas (e ao Becas) um valor icónico como casal homossexual, e assim o Egas enrabado pode adquirir um sentido simbólico indesejado...
Apesar de, já há anos, os criadores da Rua Sésamo terem descartado o mais delicadamente possível a ideia, e continuarem rotineiramente a fazê-lo, a militância continua activíssima: ainda recentemente a recusa de um pasteleiro em decorar um bolo com uma imagem dos dois apoiando o casamento homossexual (acima), está a ser pretexto para um muito mediatizado julgamento na Irlanda do Norte. Na outra Irlanda, por seu lado, amanhã haverá um referendo sobre aquele género de casamento. No fim-de-semana passado, houve quem exultasse com o do primeiro-ministro do Luxemburgo. De tudo isto, de tão monotemático e autocentrado, só me faz lembrar uma passagem da letra do Chico Fininho (Carlos Tê) cantado por Rui Veloso: A vida só tem um problema: o ácido com muita estricnina...

Há tanta coisa mais importante a acontecer por esse mundo fora e que recebe um tratamento informativo tão mais discreto, que só apetece ironizar. Como, por exemplo, indagar se, considerando o acolhimento muito mais simpático que recebem os primeiros-ministros homossexuais, um outing de Alexis Tsipras o ajudaria a resolver os prementes problemas de tesouraria da Grécia... É que, se sim e não sendo bem a mesma coisa, Tsipras terá de considerar o precedente de Henrique IV de França para quem Paris valeu bem uma missa... Ou então, aguarde-se que o casamento entre homossexuais seja implementado por todo o Mundo (será que nos países onde persiste a poligamia e já há casamento homossexual – estou a lembrar-me da África do Sul – este também poderá ser plural?), para que Francis Fukuyama possa assinalar esse marco civilizacional, escrevendo a sequela do seu mais famoso livro (publicado em 1992 depois da Guerra-Fria, abaixo), agora com um título mais evoluído: Outro Fim da História e os Últimos Dois Homens...

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