A 18 de Maio de 1968, o Festival de Cannes foi interrompido (para não ser reatado) através de uma iniciativa de uma tróica de realizadores (Jean-Luc Godard, Claude Lelouch e François Truffaut) que, por acaso, nem faziam parte do júri nem tinham filmes seus a concurso. Mas, como diria Truffaut explicando a iniciativa uns seis meses depois, era a coisa lógica a fazer: se a França estava a encerrar-se, o Festival deveria fazer o mesmo. Mas o que os portugueses que viveram o PREC há quarenta anos reconhecerão facilmente na postura determinada dos protagonistas (evocando uma Assembleia de Informação e Acção do Cinema Francês de constituição suspeitamente ad-hoc) e também dos figurantes das imagens de época acima é aquela convicção generalizada dos intervenientes de que se estarão a decidir coisas muito graves e muito sérias, convicções que os 47 anos entretanto transcorridos demonstraram que afinal não tiveram importância nenhuma. Fica-me apenas a curiosidade insatisfeita de saber, tivesse o Festival chegado ao seu fim, se Miloš Forman e o seu Baile dos Bombeiros teriam visto a popularidade de que depois vieram a gozar, consubstanciada pela atribuição da Palma de Ouro? Como acontece naquele filme, vem a propósito lembrar quanto o objectivo de uma geração pode ser ridicularizar a que a precedeu?
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