Aprende-se todos os dias. Hoje, por exemplo, tenho que agradecer à
jornalista Ana Correia Costa, a descoberta dos propósitos e da função social de
quem gosta de permanecer por perto, contemplando e comentando, os despojos de
um acidente após ele ter ocorrido – normalmente conhecido por o mirone. Ao
escrever sobre um desses acidentes, aeronáutico, envolvendo uma avioneta que se despenhou, explicou-me com uma limpidez cristalina, como nunca ninguém antes
fizera, as causas para o fenómeno da aglutinação daquelas dezenas de pessoas junto
aos despojos como é tradicional nas horas imediatamente seguintes ao evento: Muitas
pessoas foram para o local com a preocupação de saber se as vítimas eram suas
conhecidas. Enganava-me eu – e tantos! – em atribuir morbidez às
intenções da trupe. Aquilo são apenas manifestações de preocupação acompanhadas
de um cepticismo à São Tomé – ver para crer, sabe-se lá se não se conhecerá
vagamente alguma das vítimas de vista. Isto pôde explicar-me finalmente algo que há anos me intriga: porque,
quando há um acidente numa das faixas de uma auto-estrada, também se forma uma
imensa fila nas faixas de sentido contrário, mesmo já lá estando os carros da polícia, do
INEM e dos bombeiros, cada qual a exibir as lâmpadas de emergência mais
exuberantes: é obrigatório abrandarmos para ver se algum dos intervenientes não
será por acaso um dos nossos primos – nunca se sabe, não é? – para depois avisarmos
a família...
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