28 maio 2015

A ARLETE TROTSKISTA FRANCESA... E A NOSSA


As eleições presidenciais francesas que se realizaram em Maio de 1974 (no mês seguinte ao 25 de Abril, portanto) ficaram marcadas, entre outros pormenores, pelo aparecimento de uma primeira candidata presidencial, a sindicalista trotskista Arlette Laguiller, então com 34 anos. E que não se saiu nada mal no primeiro turno dessas eleições, recebendo quase 600.000 votos, o correspondente a 2,33% da votação (acima). Dois anos passados e inspirados na ideia e no seu sucesso, os trotskistas cá do sítio lembraram-se de a tentar reproduzir por ocasião das eleições presidenciais portuguesas de Junho de 1976. O trotskismo cá no burgo era representado por duas organizações: a LCI (Liga Comunista Internacionalista), a que aqui me referi ainda recentemente, e o PRT (Partido Revolucionário dos Trabalhadores).
Se a LCI se notabilizara por ter tido o pior resultado de todos os partidos nas eleições constituintes de Abril de 1975 com 10.835 votos e 0,2%, o PRT, que a essas não concorrera, notabilizou-se por ter tido o pior resultado nas eleições legislativas seguintes, em Abril de 1976, metade do resultado do piro resultado ano anterior: 5.171 votos e 0,1%. Não se pode considerar por isso que houvesse uma vaga de fundo popular a impulsionar a candidata trotskista, embora o nome viesse mesmo a calhar: Arlete, como a outra, embora Vieira da Silva, com um nome assim metade da promoção já estava feita entre as nossas elites afrancesadas. Arlete, uma mulher, uma trabalhadora, uma revolucionária, como constava dos folhetos que promoviam a candidatura, a que se somava um passado como deve ser, com problemas com a justiça injusta de um estado que até há bem pouco fora fascista.
Até que os esclarecimentos de uma outra esquerda tornaram evidentes que os problemas não haviam sido com a PIDE mas com a PJ, a literatura subversiva e os folhetos revolucionários apreendidos haviam sido simplesmente cheques sem provisão, vários e distribuídos com equidade por membros da burguesia, as unidades colectivas de produção haviam sido electrodomésticos que haviam ficado por pagar... Enfim, até os adeptos da revolução permanente consideraram deixar de haver condições objectivas e subjectivas para que Arlete se pudesse apresentar ao sufrágio. Num folheto explicativo do PRT, denominado POR QUE RETIRAMOS O NOSSO APOIO À CANDIDATURA DE ARLETE VIEIRA DA SILVA (abaixo), chegam a ler-se passagens que nos condoem pela sua ingenuidade política: ...temos que lamentar que os jornalistas de O Diário (matutino da época, totalmente enfeudado ao PCP), conhecendo como conhecem a Arlete Vieira da Silva bastante melhor e há muito mais tempo que nós não tenham avisado o nosso Partido de certos aspectos pouco claros da bibliografia (sic) apresentada inicialmente, optando por publicar em vez disso um Editorial com algumas insinuações equívocas.
Ninguém anda na política para ajudar os outros e os comunistas muito menos que ninguém. Mas talvez isso ajude a explicar porque, quando nas eleições presidências de Junho de 1976, Octávio Pato, o candidato oficial do PCP, veio a receber humilhantemente menos de metade dos votos de Otelo Saraiva de Carvalho que representava a extrema-esquerda não-alinhada (e onde se contavam também os trotskistas), se tenha feito sentir por aquelas paragens ideológicas uma certa alegria da desforra. Quanto às Arletes, a francesa gostou e habituou-se, concorrendo às presidenciais francesas de 1974, 1981, 1988, 1995, 2002 e 2007, da portuguesa não se soube mais nada, nem sequer se continuou no ramo depois da popularização do multibanco...

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