27 maio 2015

IRRELEVÂNCIAS VI

Não consegui descobrir como Eanes terá feito no seu mandato mas, a partir de Soares, os presidentes habituaram-se a publicar anualmente um livro compilando os seus discursos no cargo. Soares deu-lhes o nome de Intervenções, Sampaio o de Portugueses, Cavaco o de Roteiros, todos eles são seguidos de um (assustador) cardinal do ano do mandato a que correspondem: Intervenções 2, Portugueses Volume I, Roteiros VIII como se vê na imagem acima. Sendo o género de livros que só os imagino a serem lidos por obrigação, aquele número do fim dá-nos um retoque que – perdoe-se-me o castelhanismo – resulta fatal. Há (ou haverá) dez volumes distintos de cada um! Não se sabe quem irá suceder a Cavaco Silva mas é assunto que não me entusiasma, que as putativas promessas que por aí correm de quem já se declarou candidato ao cargo, ainda mais esmorecem. De há muito se percebeu quanto o cargo presidencial foi esvaziado de poder em 1982 ou que a prática tem demonstrado que a reeleição para o segundo mandato de qualquer presidente se transformou num ritualizado (e aborrecido) pró-forma. Mas da evolução disso não se tem discutido muito: agora porque, com o aproximar das eleições presidenciais, é inoportuno e quando o não é (a meio dos mandatos presidenciais) parece aguardar-se pelo próximo momento em que torne a ser... inoportuno. É por isso que prefiro discutir assuntos de que valha a pena falar, como o título criativo que o próximo presidente terá de dar à sua colecção de livros de discursos. Depois de Intervenções, Portugueses e Roteiros posso sugerir... Irrelevâncias. Para mim, Irrelevâncias VI será, para a História de Portugal, um belo título, pelo menos honesto, para um livro de discursos presidenciais absolutamente inúteis, simbólico da década que se aproxima.

3 comentários:

  1. Futura publicação: "A Irrelevânca do Híbrido de Belém"
    Nem carne nem peixe, nem Miterrand nem Isabel II.
    Contudo, em vez de uma reduzida equipa de protocolo e segurança no Palácio, uma pequena multidão de empatas, sob a forma de um Governo Sombra.
    Um GS que nem evita maus governos, nem garante os bons.
    Para quê, Casa Civil & Casa Militar, com um PR sem qq capacidade de controlar ou corrigir um qq PM que não seja da sua simpatia?
    Passada a experiência do General Eanes, dada a alteração da CRP em 1982, para quê uma Corte de altos assessores, mlitares e civis, a replicarem ali estruturas da governação?
    a) Dar lugar de prestígio, a muitos dos participantes nas candidaturas do PR;
    b) Idem, para gente do/s partido/s apoiante/s.
    c) Dar um ar de 'importância' tipo feudal, ao Palácio e ao seu passageiro titular.
    Com um orçamento e despesas de funcionamento seguramente, "acima das suas possibilidades".
    Paga a Plebe.

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  2. Quanto a Eanes, os seus discursos foram reunidos em livros encadernados, mais para efeito de arquivo que de outra coisa.
    Salvo erro, mediante o empenho de um dos seus oficiais de segurança.
    Como vemos agora, sem a prosápia de debitar rotas, caminhos ou cambalhotas SA.

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  3. Correndo o risco de me repetir sobre o que gostaria de discutir sobre a personalidade do próximo presidente da República, o que preferiria fazer era discutir as competências que se devem atribuir a tal cargo. A esse propósito, no princípio deste mês escrevi aqui um poste em que recapitulei sinteticamente as competências de três das mais importantes magistraturas da República Romana. Esse período da História de Roma possui, entre inúmeros pecados, a virtude de se ter prolongado e funcionado efectivamente por cerca de 500 anos (509 a.C. – 27 a.C.). Aquilo que existiu, o equilíbrio de poderes entre as diferentes funções do Estado, foi o fruto de uma consolidada experiência temporal. Nesse poste, mencionei os Cônsules, os Censores e os Tribunos da Plebe. Poderá passar por muito erudito mas é apenas matéria da História Universal que se dá no Secundário. E o que se assiste em Portugal são desenhos de perfil presidencial como os que eram exigidos aos Censores, onde só aparecem candidatos a presidente que têm um discurso eleitoral como se dispusessem dos poderes executivos de Cônsules, que quando eleitos para a função só dispõem de poderes negativos, tais quais aqueles que outrora dispunham os Tribunos da Plebe.

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