13 maio 2015

BODAS DE DIAMANTE DE UMA OFERTA DE «SANGUE, SOFRIMENTO, LÁGRIMAS E SUOR»

Porque há poucos dias se comemoraram com múltiplas cerimónias os 70 anos da Vitória na Segunda Guerra Mundial (na Europa), justifica-se a oportunidade de recordar o que terá custado alcançá-la a pretexto desta outra comemoração, a dos 75 anos do primeiro discurso como primeiro-ministro de Winston Churchill na Câmara dos Comuns. Durante os quatro anos que se passaram desde 2011, e perante o tom desesperado que um amplo leque de políticos portugueses e europeus apresentou da situação nacional, sempre ansiei que dentro de eles, algum me pudesse apresentar o propósito de todos os sacrifícios que nos estiveram a ser impostos com a mesma limpidez como Churchill o fez aos britânicos naquele dia. Não e agora, mesmo na improbabilidade de que finalmente alguém apareça a justificar cristalinamente o que foi feito e porque foi feito, é evidente que agora já não vem a horas... Abaixo e mesmo a propósito, no seu Bartoon publicado hoje, Luís Afonso transmite uma ideia muito semelhante à enunciada:

Na última sexta-feira à noite recebi de Sua Majestade o encargo de constituir um novo Governo. Era evidente o desejo tanto do Parlamento como da Nação que este Governo tivesse a mais ampla base possível e que incluísse todos os partidos.
Já fiz a parte mais importante desse trabalho.
Formei um gabinete de guerra com cinco membros, que representam, com a oposição trabalhista, e os liberais, a unidade nacional. Era necessário que tudo isto se fizesse apenas num dia, dada a extrema urgência e a gravidade dos acontecimentos. Outros cargos importantes foram preenchidos ontem e apresentarei esta noite ao Rei uma nova lista. Conto concluir amanhã a nomeação dos principais ministros.
A escolha dos restantes ministros normalmente leva um pouco mais de tempo, mas espero que, quando o Parlamento se voltar a reunir, essa parte da minha tarefa esteja terminada e a constituição do Governo se encontre completa sob todos os pontos de vista. Entendi ser de interesse público propor que a Câmara
(dos Comuns) fosse convocada hoje. No final da sessão, propor-se-á o adiamento dos trabalhos até terça-feira, 21 do corrente, tomando-se as disposições adequadas para que a convocação se faça antes disso, se for necessário. As questões a discutir serão notificadas aos Srs. deputados o mais cedo possível.
Convido agora a Câmara, pela moção apresentada em meu nome, a registar a sua aprovação das medidas tomadas e a afirmar a sua confiança no novo Governo.

A resolução:

Esta Câmara saúda a formação de um governo que representa a vontade única e inflexível da Nação de prosseguir a Guerra com a Alemanha até uma conclusão vitoriosa.

Formar um Governo de tão vastas e complexas proporções é, já por si, um sério empreendimento, mas devo recordar ainda que estamos na fase preliminar duma das maiores batalhas da história, que fazemos frente ao inimigo em muitos pontos - na Noruega e na Holanda -, e que temos de estar preparados no Mediterrâneo, que a batalha aérea contínua e que temos de proceder nesta nossa ilha a grande número de preparativos.
Neste momento de crise, espero que me seja perdoado não falar hoje mais extensamente à Câmara. Confio em que os meus amigos, colegas e antigos colegas que são afectados pela reestruturação política se mostrem indulgentes para com a falta de cerimonial com que foi necessário actuar. Direi à Câmara o mesmo que disse aos que entraram para este Governo: Só tenho para oferecer sangue, sofrimento, lágrimas e suor. Temos perante nós uma dura provação. Temos perante nós muitos e longos meses de luta e sofrimento.
Perguntam-me qual é a nossa política? Dir-lhes-ei: fazer a guerra no mar, na terra e no ar, com todo o nosso poder e com todas as forças que Deus possa dar-nos; fazer guerra a uma monstruosa tirania, que não tem precedente no sombrio e lamentável catálogo dos crimes humanos. É essa a nossa política.
Perguntam-me qual é o nosso objectivo? Posso responder com uma só palavra: Vitória – vitória a todo o custo, vitória a despeito de todo o terror, vitória por mais longo e difícil que possa ser o caminho que a ela nos conduz; porque sem a vitória não sobreviveremos.
Compreendam bem: não sobreviverá o império britânico, não sobreviverá tudo o que o império britânico representa, não sobreviverá esse impulso que através dos tempos tem conduzido o Homem para mais altos destinos.
Mas assumo a minha tarefa com entusiasmo e fé. Tenho a certeza de que a nossa causa não pode perecer entre os homens. Neste momento, sinto-me com direito a reclamar o auxílio de todos, e digo Unamos as nossas forças e caminhemos juntos.

1 comentário:

  1. Grande discurso de um grande homem que esteve à altura dos tremendos desafios dessa época.

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