30 abril 2015

OPERAÇÃO «FREQUENT WIND»: DE COMO (COM JEITINHO) SE CONSEGUE PÔR A HISTÓRIA A FAZER O PINO

Às primeiras horas da madrugada de 30 de Abril de 1975 – completam-se hoje 40 anos – dava-se por terminado o envolvimento norte-americano no Vietname. A fotografia acima, do fotógrafo holandês Hubert van Es (1941-2009), exibindo um momento de uma evacuação por helicóptero a partir do terraço de um edifício de Saigão adquiriu o carácter simbólico de uma política externa norte-americana para uma determinada região do globo que fracassara totalmente. Mas é extremamente curioso apreciar aquilo que, nos anos que entretanto decorreram, nos Estados Unidos se tem feito para que se tenha vindo a alterar essa percepção simbólica. O processo da evacuação dos norte-americanos e dos sul-vietnamitas que lhes eram afectos recebera o nome de uma operação militar. Isso foi um pormenor que, na altura, não teve qualquer interesse: aprecie-se abaixo a edição do New York Times em que a evacuação é noticiada e onde o nome da Operação não aparece evocado sequer.
A referência e o destaque dado à Operação Frequent Wind só surgirá anos depois, com uma cuidada reconstrução dos acontecimentos, em que se procurou privilegiar o carácter humanitário e bem-sucedido da evacuação (o seu aspecto táctico, portanto) em detrimento do significado mais amplo e mais importante (estratégico) do completo colapso militar do regime apoiado pelos Estados Unidos em que essa evacuação teve que ter lugar. No mesmo sentido, pela comemoração das bodas de prata dos acontecimentos (em 2000), pôde-se ler no mesmo New York Times, outrora tão descritivo, mais do que empenhado nos acontecimentos, uma crítica acérrima ao rigor da fotografia simbólica de van Es que o próprio jornal destacara: não se tratava do terraço da embaixada dos Estados Unidos, os evacuados são sul-vietnamitas, o último helicóptero a sair de Saigão só o fez daí a doze horas. Seriam críticas para levar a sério, não houvesse o conhecido facto anacrónico da fotografia mais simbólica da participação dos Estados Unidos na Segunda Guerra Mundial ter sido reencenada e ter tido lugar mais de um mês antes do fim dos combates em Iwo Jima...
Mas, como se pode apreciar pelo vídeo incluso, a indiscutível habilidade norte-americana conseguiu transformar o dia 30 de Abril numa data comemorativa, circunscrevendo-se, no caso, à perspectiva de um dos porta-aviões envolvidos na evacuação, o USS Midway: 30 de Abril de 1975. Foi um dia de tragédia e um dia de esperança. Um dia simultaneamente de perda e de oportunidade. Foi o último dia da República do Vietname do Sul. Milhares abandonaram a sua pátria por um futuro incerto. Muitos foram salvos pelos jovens corajosos do USS Midway, naquilo que veio a ser conhecido por Operação Frequent Wind. Um número incontável de vidas foi salvo. Passaram-se quase 35 anos desde que esta notável missão de salvamento foi completada com sucesso. A 30 de Abril de 2010 iremos prestar homenagem àqueles que encontraram a Liberdade na América¹ e a tradição humanitária da Marinha dos Estados Unidos. Pela primeira vez vamos homenagear os nossos amigos vietnamitas que reconstruiram as suas vidas na América, assim como os marinheiros e oficiais que o tornaram possível. Junte-se a nós para um evento único no convés de voo ao meio-dia do dia 30 de Abril numa cerimónia marcada pela Honra, Respeito, Reflexão e Agradecimento. Valerá a pena e esperamos que se associe. (Bilhetes a 20 dólares). Para dar a volta a um texto, os americanos são únicos: com eles e dado o tempo já transcorrido, já se teriam aproveitado daquela fotografia simbólica de Angola com um fuzileiro transportando a nossa bandeira, para identificar o homem e o condecorar como um herói da retirada.    

¹ E eu a considerar que o objectivo que justificava o envolvimento dos Estados Unidos no Vietname fora que os vietnamitas encontrassem a Liberdade... mas no seu próprio país.

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