01 abril 2015

APONTAMENTOS SOBRE A RESOLUÇÃO CIENTÍFICA DAS RELAÇÕES ENTRE PAÍSES SOCIALISTAS ou O PROBLEMA DE QUEM IRÁ LIMPAR AS SENTINAS DO SOCIALISMO

Nikita Khrushchev (acenando) e Walter Ulbricht quando de uma visita que o primeiro fez a Berlim oriental em 1957. A relação subordinada do anfitrião alemão em relação ao russo já remontava a 1942, quando Khrushchev, que já ascendera aos círculos próximos de Estaline, fora nomeado o comissário político sénior da Frente de Estalinegrado e Ulbricht fora destacado com outros exilados comunistas alemães para a acção psicológica, com a tarefa principal de encorajar os combatentes da Wehrmacht a renderem-se. Nikita Khrushchev era um chefe de raciocínios muito lineares a que juntava um humor feroz: à noite, quando da refeição conjunta com os seus subordinados, o alemão tornava-se uma das suas vítimas favoritas: – Oh Camarada Ulbricht, não me parece que mereça a sua ceia de hoje; não houve um alemão sequer que se tivesse rendido... Mas à linearidade brutal de Khrushchev, Ulbricht podia responder, ainda que involuntariamente, com uma insensibilidade equivalente. Quando o êxodo de trabalhadores da DDR para ocidente se começou a fazer sentir severamente¹ (que culminaria com a construção do Muro de Berlim), Walter Ulbricht lembrou-se de sondar pessoalmente Nikita Khrushchev para saber se os soviéticos não estariam eventualmente disponíveis para enviar gastarbeiter menos qualificados para a DDR². A resposta indignada e irritada do russo era previsível, embora sem nada do cientificismo de que os comunistas doutras paragens gostavam de se gabar (abaixo): – Então nós ganhámo-vos a guerra e agora vínhamos para aqui limpar-vos as vossas sanitas?
¹ 129.000 (1949), 197.000 (1950), 165.000 (1951), 182.000 (1952), 331.000 (1953), 184.000 (1954), 253.000 (1955), 279.000 (1956), 261.000 (1957), 204.000 (1958), 143.000 (1959), 199.000 (1960) e 207.000 (1961). Tanto ou mais grave do que a quantidade dos que partiam era a sua qualificação; assim, por exemplo, entre 1954 e 1961 a DDR perdeu 20% dos seus médicos.
² Como viria a acontecer no futuro com vietnamitas, cubanos, moçambicanos, angolanos e polacos.

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