26 abril 2015

«ПРОСТИТЬ И ЗАБЫТЬ»*

De uma reportagem da edição deste Sábado do Expresso, a respeito do regresso à Assembleia dos antigos deputados constituintes eleitos há 40 anos, retiro estas duas passagens demonstrativas que a disciplina comunista já não é a que era, mas também que a evolução dos tempos ainda não transformou o partido comunista numa organização civilizada de uma democracia moderna. Haverá quem se disponha a acomodar-se, mas também haverá entre os seus veteranos aqueles que não estão disponíveis nem a esquecer nem a perdoar. Diz-se na reportagem: na foto, ao lado de Tengarrinha fica Carlos Brito, um dos dirigentes históricos do PCP, partido com o qual entrou em ruptura. No final da sessão fotográfica faz questão de se dirigir à bancada que dirigiu durante 15 anos para cumprimentar os ex-camaradas – mas pelo menos um deles, José Carlos Almeida, ignora-o ostensivamente, deixando-o de mão estendida. (...) Ao contrário de alguns camaradas seus o secretário-geral (do PCP) não recusa o cumprimento de Carlos Brito, muito menos de José Tengarrinha – que foram quadros do PCP e presos políticos numa altura em que Jerónimo ainda não aderira ao partido.

No PCP pode perdoar-se, mas nunca se esquece. Ainda há coisa de dois anos (em Fevereiro de 2013), os comunistas mereceram o nosso respeito quando, por ocasião da morte do major-general Jaime Neves, que foi um dos protagonistas do 25 de Novembro de 1975, eles se dissociaram, por intermédio das declarações acima de António Filipe e da forma mais elegante que lhes foi possível, da homenagem prestada na Assembleia da República ao falecido. Outra atitude seria uma hipocrisia. Mas é por isso mesmo que se torna ainda mais difícil conjugar tal rigor de memória com as constantes amnésias bávicas** de que os militantes comunistas dão mostras cada vez que se faz uma incursão no passado e os procuramos confrontar com alguns insucessos fragorosos do socialismo que eles apregoaram durante décadas. Se há quem não se esqueça do anti-comunismo de Jaime Neves há 40 anos, porque que é que não aparece ninguém que se lembre de como eram os supermercados de Moscovo há apenas 25 anos?

* Prostit' i zabyt' (perdoar e esquecer - em russo)
** Referente a Zeinal Bava, um grande gestor de memória frágil.

Sem comentários:

Enviar um comentário