02 abril 2015

EXPERIMENTEM LÁ...


Recentemente, as redes sociais foram varridas por este vídeo acima, onde um ambientalista chamado Patrick Moore se passa dos carretos, quando de uma entrevista a um canal francês (Canal +) em que ele pugnava pela inocuidade para a saúde de um herbicida. Figurativamente diz que se podia beber um copázio dele sem que nada de mal acontecesse, até ao jornalista lhe propor concretamente beber o tal copázio ao qual acaba por (ter de) responder que não é estupido. Ontem vi uma cena similar mas a que ficou a faltar a pergunta/proposta da jornalista a confrontar a teoria do discurso com a prática. Como é rotina, António Bagão Félix compareceu como comentador convidado no programa da noite da SIC Notícias e um dos assuntos a que deu mais destaque foi o relatório da Comissão Nacional para a Protecção de Dados (CNPD) a respeito da celebrada lista VIP e as fragilidades detectadas quanto à protecção do sigilo da situação fiscal dos contribuintes. Lê-se na resenha do seu comentário que foi publicada pela redacção daquele canal: Bagão Félix considera grave e preocupante que tanta gente, dentro e fora da máquina do fisco, tenha acesso aos dados fiscais de qualquer contribuinte. O antigo ministro das finanças esteve na SIC Notícias, onde considerou um sinal de amadorismo a comissão de protecção de dados ter agora descoberto que há falta de legislação, que proteja os cidadãos. Bagão diz mesmo que perante isto, não (é) difícil (não) ter confiança no chamado sigilo fiscal. No vídeo que a acompanha ouvimo-lo perguntar enfaticamente:

Então, há um sistema destes, com esta importância, com esta magnitude, com esta densidade do ponto de vista dos dados pessoais (...), e depois, agora, a CNPD diz que falta legislação e sugere que essa lei seja feita pelo parlamento?
Seria perante esta veemência que teria sido oportuno que a anfitriã, Ana Lourenço, perguntasse ao antigo ministro das Finanças (Julho de 2004 – Março de 2005), o que é que teria degenerado na protecção do sigilo fiscal de há dez anos para cá, quando Bagão Félix tivera a responsabilidade de o proteger. Replicando a enfase das perguntas, poder-se-ia perguntar: Era o software que era tão antiquado que não permitia tal género de consultas aos dados fiscais de Pedro Santana Lopes? Eram os funcionários do fisco de então que eram geralmente menos curiosos? Era o respeito que infundia a pessoa de António Bagão Félix (ao invés de Maria Luís Albuquerque) que os dissuadia? Ou havia legislação protectora dos dados pessoais que entretanto desapareceu? Estou desconfiado que, mesmo sem beber o copázio, Bagão Félix iria fazer cara de quem bebera e não gostara... Mas jornalismo é isso; aquilo que se passou ontem na SIC Notícias foi chá e canasta.

1 comentário:

  1. As personagens que nos são diária e sistematicamente impingidas como comentadores, muitas com uma suposta aura de experiência e conhecimento, sofrem dos mesmos problemas: não dominam suficientemente implicações ou aspectos correlacionados com a matéria em causa (quando não mesmo a própria matéria), as análises são invariavelmente marcadas por um determinado prisma politico-conceptual, e concentram-se num certo período temporal (o que mais lhes convém) ignorando propositadamente o continuum do processo onde, por norma, elas próprias e/ou a força política que representam estiveram envolvidas. É por isso que o afastamento e descrença da população relativamente à política e aos políticos é cada vez maior e cresce o sentimento: eles são todos iguais!
    Na realidade não são. Há uns mais iguais que outros e também há uns com mais responsabilidades do que outros. Regra geral nenhum está isento, seja por acção ou inacção. E são sempre os mesmos !!! o que cansa e desespera.

    Em qualquer caso, parecer-me-ia normal e justo que o grau de responsabilidade fosse aumentando em função do encurtamento da distância à parede ou ao precipício. Mas nem toda a gente pensa assim. Uns dividem a história consoante a cor da força política dominante, outros não têm pejo a recuar até ao 25 de Abril, outros retrocedem ainda mais longe, a D. Afonso Henriques…

    Há meia dúzia de anos, quando uma brasileira que acabava de me ser apresentada se queixava que a herança portuguesa no seu país seria a principal causa do seu subdesenvolvimento, não resisti a responder-lhe que estava enganada: o problema residia no facto de a Península Ibérica ter sido durante séculos dominada pelos muçulmanos.

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