Porque os postes neste blogue às vezes comportam-se como cerejas, a partir da leitaria decadente de Novocherkassk de ontem, lembrei-me de como a mesma cidade nesses tempos gloriosos fora palco de um episódio (Junho de 1962) de contestação laboral daqueles que, por cá, o nosso PCP designava e continua a designar invariavelmente por justas lutas dos trabalhadores. Deixo à imaginação dos leitores como é que os comunistas soviéticos reagiram às tais reivindicações justas dos trabalhadores de lá... Mas não é sobre essa previsível incoerência que eu quero manifestar a minha estranheza.
O poste é para admirar a capacidade socialista para conseguir abafar todo o episódio, tanto internamente, como até mesmo no exterior. Afinal Novocherkassk (com 170.000 habitantes) é um pouco maior que Baleizão (900) e o Massacre de Novocherkassk (1962), com os seus 26 mortos, 87 feridos, mais de uma centena de presos e um número indeterminado de deportados para o Gulag, representaram bastante mais, substantiva e simbolicamente, do que os conhecidíssimos acontecimentos de 1954 que levaram ao assassinato de Catarina Eufémia... Porque é que ninguém por cá soube (e continua sem saber) nada daquilo?
Elaborando sobre a famosa frase de Orwell, até se percebe: é que os trabalhadores são todos iguais, mas há uns que podem ser menos iguais que os outros...
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