06 abril 2015

FOTOGRAFIAS ANTIGAS DE BEN GURION INSPIRANDO AS MODERNAS DE «PEPE» MUJICA

A carreira política de David ben Gurion (1886-1973), uma, senão a principal, personalidade do processo que levou à declaração do estado de Israel em Maio de 1948, de que foi o seu primeiro-ministro de 1948 a 1963, teve um interregno e uma daquelas falsas saídas entre 1954 e 1955. É de um desses anos (1954) que data a fotografia acima, tirada por Frank Horvat, quando a aparência era que ben Gurion se retirara para um kibutz no Neguev para gozar a sua merecida reforma. A fotografia mostra-se (bem) trabalhada, destaque para a sua cabeleira despenteada (tornada entretanto ex-libris da imagem de ancião judeu respeitado por causa de Albert Einstein), para a espontaneidade dos garfos na mesa e para a intimidade dos pratos com restos ainda à vista. O remate é feito pela toma do café, sinal de fim de refeição, numa sala que se percebe, pelos comensais que aparecem por detrás, que deve ser comunitária, como deviam ser os kibutz. Os cuidados que os israelitas cultivavam nas imagens que de si pretendiam transmitir para o exterior eram então de modéstia: em 1954, Israel edificara, periclitantemente, o seu estado na Guerra de 1948-49, mas ainda lhe faltava a segurança e depois a soberba adquirida com as consecutivas vitórias militares nos conflitos israelo-árabes que se sucederam: no Sinai em 1956, na Guerra dos Seis Dias em 1967 e na do Yom Kippur em 1973. Note-se o contraste da expressão de ben Gurion acima, com aquele que vimos ao seu sucessor Netanyahu enquanto discursava no congresso norte-americano no mês passado...
Regressando a ben Gurion, é engraçado ver aquele mesmo estilo de discrição e sobriedade de Cincinato, agora recuperado para a promoção mediática mundial de uma personalidade ainda mais periférica quanto o ex-presidente uruguaio, José Pepe Mujica (1935-....). Esclareça-se que não é obrigatório que a modéstia de Mujica esteja a ser necessariamente promovida pelo próprio ou pelos que mais proximamente o rodeiam, mas não se pode descartar a hipótese de que haja uma corrente política poderosa que esteja interessada em promover mediaticamente aquele estilo de vida modesto, anti-ostentatório de Pepe Mujica, por contraste com os padrões repletos de cenografias prevalecentes por todo o planeta. Mas raciocinemos quanto à espontaneidade de sabermos da existência de um Mujica: afinal, quantos outros presidentes uruguaios compartilham a sua notoriedade?... (Nenhum) E não haverá entre as duas centenas de homólogos seus espalhados pelo Mundo, mais um punhado de exemplos de outros chefes de estado/governo que sejam igualmente desprendidos com exibições de poder? (Certamente haverá) Que me desculpem o cinismo mas, quando mais se sabe sobre um assunto, mais circunspecto se é no entusiasmo como as causas de pessoas boas nos podem arrebatar.

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