Robert Doisneau foi o autor desta fotografia de um momento de uma refeição requintada num qualquer château ou manoir da França profunda, uma França aristocrática que ainda subsistia em 1957 e que continua a perdurar no país da Europa onde a República mais se exibe, exuberante de o ser (abaixo). Como é comum, a condessa nascera plebeia sob o nome de Laurence Ballande. A família que viria a ser sua era então representada pelo seu futuro sogro, o conde François-Louis-Joseph-Marie (1875-1954), oficial do exército, que acabou a Primeira Guerra Mundial no Estado-Maior do Marechal Foch, encarregado por este em Novembro de 1918 de ir acolher a delegação alemã encarregada de assinar o Armistício. Terminada a guerra passou à reserva, dedicou-se às suas propriedades em Ballancourt-sur-Essone (a uns meros 37 km a sudeste de Paris). Foi eleito em 1919 maire da comuna (1.700 habitantes à época), cargo que iria ocupar pelos próximos 25 anos, até à Libertação (1944). Foi também neste último ano que o seu filho Jacques de 32 anos (1912-2001) casou com Laurence de 35 (1909-1984), uma paixão que virá a ser objecto de três livros daquele antigo diplomata convertido a escritor – mas também a autarca (1956-65), perpetuando a tradição familiar à frente dos destinos de Ballancourt-sur-Essone¹. Quando da fotografia, e apesar dos seus 48 anos, a Condessa de Bourbon-Busset era uma condessa de condição recente (o sogro falecera há apenas três anos) e por isso desculpar-se-á um certo deslumbramento que é pouco consentâneo com as antigas linhagens – os Condes de Bourbon-Busset vão entroncar a sua ascendência ao rei Luís IX que reinou no Século XIII... Esta França nobre é tão ou mais anacrónica do que qualquer estrutura social que conheçamos das aristocracias rurais nos restantes países europeus e, no entanto e apesar das aparências, é uma classe social que subsiste por detrás dos holofotes que em França nos aparecem apontados, sofisticadamente, para quase todos os outros lados.
¹ O actual conde, Charles (1945-....), filho de ambos, virá a continuar a tradição, ocupando o mesmo cargo entre 1998 e 2014. A comuna tem agora mais de 7.000 habitantes.
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