07 abril 2015

...CERTAS FOTOGRAFIAS TURCAS

Desde inúmeras imagens captadas no rescaldo dos infindáveis terramotos que assolam a Turquia com infeliz regularidade (acima), até à mais recentemente – Junho de 2013 – popularizada Lady in Red, e que nos mostra um instantâneo de brutalidade policial durante uma manifestação em Istambul quando um agente mais diligente aplica directamente uma dose de gás pimenta a uma manifestante (abaixo), as fotografias oriundas daquele país nunca se destacaram propriamente pela preocupação com a sensibilidade do observador. Por isso não percebo a sanha com que o governo turco está a perseguir as plataformas de redes sociais onde aparecem fotografias de um procurador que foi sequestrado e, mais tarde, executado por dois terroristas de um movimento de extrema-esquerda.
Ou melhor, eu poderei entender essa sanha quando enquadrada de uma forma mais abrangente, como a que levou aquele mesmo governo em Março do ano passado a bloquear o twitter por nele se publicarem acusações – presumivelmente verdadeiras e por isso perigosas... – sobre corrupção nos altos escalões do governo turco. Não percebo é como as imagens de uma acção terrorista com um desfecho desfavorável para quem a perpetrou (os sequestradores foram abatidos e o refém executado) podem incomodar assim tanto o poder turco, a ponto dele se dispor a recolher ainda mais publicidade negativa mundo fora com as suas iniciativas de bloquear algumas imagens entretanto publicadas na internet sobre ela (abaixo). É que os turcos até conseguiram gerir bem a notícia e nota-se o seu spin na redacção da mesma que se pode ler nos jornais comuns: os terroristas foram abatidos durante a intervenção policial mas antes feriram gravemente o magistrado que acabou por morrer no hospital – considerando que este foi atingido por cinco vezes na cabeça, considero de um optimismo desmesurado diagnosticá-lo por ferido, a não ser para o ir fazer morrer oficialmente ao hospital. Num outro spin, as autoridades desmentiram uma notícia entretanto posta a correr (mas que eu nem cheguei a encontrar...), que o refém fora atingido com dez tiros; não, fora apenas com cinco...
Porém, suspeito que o que continuou a incomodar verdadeiramente as autoridades turcas será talvez o valor simbólico das imagens, a constatação de como, quando submetidos à violência, também os agentes que encarnam a autoridade do Estado, por muito vigorosas sejam as palavras públicas que proferem, se transformam em entes frágeis. E a todos os poderes assusta que isso se saiba, o judicial não será excepção. Nesse sentido e se for por isso e mesmo que se trate de uma acção terrorista e sanguinária, creio que se justifica propagandear aqui neste blogue as fotografias do sequestro, não apenas por elas estarem ameaçadas na sua liberdade de circulação pelo governo turco, mas também pelo carácter despótico deste último, assumindo-se a alterar as regras do jogo a gosto das suas conveniências. Parecem estar com medo.

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