Fossem outras as circunstâncias, e esta demarcação que António Costa fez dos expedientes dos vencedores das eleições legislativas anteriores teria sido aproveitada pela condenação implícita (mas óbvia) que ali fez ao estilo que também foi adoptado por José Sócrates. Mas não. Não é do interesse dos adversários políticos de Costa ao nível governamental realçar os contrastes críticos que ele possa manifestar com o anterior primeiro-ministro socialista, bem antes pelo contrário. Sem esse interesse, e se do lado dos amigos de Costa há por sua vez uma certa vergonha em realçar essas passagens, os jornalistas ficam entregues a si mesmos, sem que ninguém lhes explique o que pode ser notícia e o que o não é... Mas depois (os socialistas) não se queixem...
Sim, na intenção declarada de atacar Santana e Coelho, não deixa de implicitamente condenar também o camarada. E também é verdade que os seus adversários não estarão muito interessados em realçar essa tímida tentativa de demarcação, bem pelo contrário. Já quanto aos media, talvez pudessem aproveitar a ocasião para lhe perguntar: Porque não disse isso antes? Porque andou a defendê-lo todo o tempo na Quadratura do Círculo e só agora ensaia uma demarcação? Porquê agora? Até onde tenciona levar essa demarcação? Vai restringir-se apenas a esse ponto, ou tem mais divergências relativas à forma e às políticas que foram adoptadas durante esse governo em que foi o número dois? Está sozinho na(s) crítica(s), ou é acompanhado por uma parte significativa do actual PS?
ResponderEliminarVou ver se não me esqueço dessa linha de argumentação para criticar Pedro Passos Coelho quando ele vier a reconhecer o inevitável: que o programa assinado com a troica, aquele onde ele queria ir mais longe, foi um fiasco. "Porque é que não disso isso antes? Porque andou a defendê-lo todo o tempo? Porquê só na altura (em que o fizer)? Até onde tencionará levar essa (retratação)?"
ResponderEliminarE é sempre bom relembrar-se Clémenceau e uma certa forma de comentar a política: «Un traître est un homme politique qui quitte son parti pour s'inscrire a un autre. Par contre, un converti est un homme politique qui quitte son parti pour s'inscrire au votre.»
Apesar de todo este distanciamento aparente, Clémenceau era um faccioso do caraças, coisa que eu não consigo fazer como ele, tanto no futebol como na política: não consigo engajar-me como adepto...
Amigo Teixeira,
ResponderEliminarComo se recordará, a minha apetência por futebol não é nenhuma. Apesar disso, a última débâcle do clube da minha terra, bem como o estado do país, não deixam de me colocar na posição do portuga caricaturado neste cartoon:
http://henricartoon.pt/o-oftalmologista-909525
O que me recuso a aceitar é que o oftalmologista me coloque aqueles óculos (até porque o seu currículo não é nada tranquilizador, bem pelo contrário).