Sempre que aparece uma qualquer insinuação manhosa (como esta acima feita pelo Correio da Manhã) ao ordenado seja de quem for, convoca-se o desgraçado do Jorge Jesus - que mal sabe falar - mais os seus 4 milhões anuais e a conversa esmorece como que que por encanto. Diz-se então no Correio da Manhã que Fernando Pinto ganha 376.000 € por ano, o que é dez vezes menos do que o que ganha Jorge Jesus. Qual era mesmo o problema?...
Do meu ponto de vista, faz pouco sentido a revelação de remunerações, de quem quer que seja, se não devidamente enquadradas na respectiva actividade, com referência a médias (internacionais) ponderadas pela dimensão, complexidade, rentabilidade, qualidade e adequação do serviço prestado, evolução histórica, factores condicionantes, etc., não devendo ainda ser indiferente a consideração do nível de vida/poder de compra nacional.
ResponderEliminarA ideia que tenho é a de que, por exemplo, o governador do Banco de Portugal não sairia muito bem num retrato deste tipo. O mesmo aconteceria, possivelmente, com o referido Jorge Jesus, independentemente das suas muitas qualidades que os meus conhecimentos futebolísticos não me permitem julgar se acompanham ou não os seus dotes oratórios.
Provavelmente só um ignorante na matéria, como eu, se perguntará se os treinadores do Portimonense ou do Desportivo de Chaves, com os mesmos recursos e matéria-prima, seriam capazes de apresentar resultados parecidos. Aparentemente não, já que aos seus ordenados faltarão porventura dois zeros para se aproximarem de 4 milhões.
Claro que haverá sempre quem argumente que Mourinho ganha 4 vezes mais que Jesus. Mas, lá está, Mourinho trabalha no Reino Unido (onde a vida é um poucochinho mais cara), tem 21 títulos, conquistados em quatro países diferentes, e prepara-se para comprar mais um relógio… Estou convencido que Jorge Jesus ganha um bocadinho mais do que quatro vezes os salários dos seus colegas do Portimonense ou do Desportivo de Chaves.
Por tudo isto, também eu esmoreço quando o Jorge Jesus é convocado.
O que eu gostaria de realçar em todo este processo é que quem sai mal dele são os leitores destas coisas quando embarcam nelas sem qualquer espírito crítico – e quando levam um “duche de água fria” nas suas indignações forjadas na ignorância e na manipulação. Pessoalmente, estou com o comentador: as remunerações deviam ser, citando Jorge Jesus, um assunto “do forno interno” (sic) do clube. E nessa coisa da remuneração dos profissionais de espectáculo, que nada têm a ver com o valor que elas possam possuir (há dois anos houve um xeque árabe que chegou à conclusão que tinha nas estrebarias um cavalo que ele considerava mais caro do que o Cristiano Ronaldo: http://www.dn.pt/desporto/interior.aspx?content_id=2660203), sou pela maior liberdade remuneratória, seja ela a de Jorge Jesus, seja ela a de Harrison Ford para estrelar (em bengala e cadeira de rodas...) o próximo filme Indiana Jones VII. Mas, se forem induzidas a indignarem-se por uma causa qualquer, ao menos que as pessoas se informem sobre o assunto – algo que as notícias de jornal que os incitam não costumam fazer: neste caso, quanto ganham em média os CEO das companhias de aviação por esse mundo fora? Saber isso já foi muito complicado. Hoje está à distância de uma pesquisa de Google; a tecnologia dá-nos condições para sermos cada vez mais esclarecidos mas parece deixar-nos cada vez mais na mesma. Só a mediocridade passa a explicar a ignorância sobre certos assuntos.
ResponderEliminarEstou certo que, neste como em muitos outros casos, relativamente ao essencial, estaremos de acordo quanto à estupidez da “notícia” e ao móbil da mesma. Onde eventualmente poderíamos não estar perfeitamente sintonizados seria precisamente quanto à importância e valorização a dar aos tais aspectos enquadradores e justificativos da oportunidade da mesma, que não são apresentados e deviam ser.
ResponderEliminarEm contrapartida, nos nossos comentários fomos avançando alguns. A frase “ … nessa coisa da remuneração dos profissionais de espectáculo, que nada têm a ver com o valor que elas possam possuir … sou pela maior liberdade remuneratória, seja ela a de Jorge Jesus, seja ela a de Harrison Ford…”, por exemplo, levanta-me dúvidas. Primeiro, porque me custa rotular o treinador da mesma forma que os jogadores, estes sim “profissionais do espectáculo”. Por muito que o homem corra, grite e gesticule, os profissionais do espectáculo são os que estão dentro das quatro linhas. Segundo, a indiferença “pela maior liberdade remuneratória” só se justifica, para mim, quando podemos estar perfeitamente seguros de que a factura, ou parte dela, não nos será jamais apresentada, directa ou indirectamente. Ora, se nos lembrarmos dos totonegócios, das bombas de gasolina e bingos, e tão recentemente do famoso projecto de isenção de taxas camarárias, não é difícil que nos possam surgir algumas dúvidas…
Como se depreende pelo facto de nem o ter referido, a reportada remuneração de Fernando Pinto não me impressiona, ainda menos tratando-se de um gestor estrangeiro. Não precisava, por isso, de googlar (http://share.d-news.co/mhnXr7G). Contudo, precisamente para não induzir deliberadamente o leitor ao engano ou força-lo ao uso de “descodificadores”, este tipo de “notícias” só deveria acontecer quando, efectivamente, há um evidente e provado desfasamento dos números com aquela que é a realidade do meio.
Concordo que aqui, como em muitos casos precedentes, as discordâncias não incidem sobre o que é substantivo nas opiniões. Acho que é mais um certo gosto em apontar a discordância, porque não se consegue escrever tanto sobre concordâncias. O que me trás à que me motivou a deixar mais este apontamento, referente à última parte do último parágrafo do comentário acima: a importância e a necessidade de googlar tornam-se indispensáveis: eu consigo perceber a motivação e os interesses subjacentes ao formato desta notícia sobre o ordenado de Fernando Pinto tal qual aparece sugerida. Porém se, como é acima referido, a notícia estivesse esclarecedoramente estruturada, estou convencido que aí perderia o interesse em ser publicada.
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